Há sempre aquelas pessoas as quais admiramos por sua
vida e, sobretudo, por sua profunda intimidade com Deus. E uma delas, para mim,
é Charles Spurgeon. Já li e continuo lendo suas literaturas, suas obras e
biografias e como tem sido abençoador e inspirador em meu ministério. Spurgeon
era o mais velho de dezessete filhos, sendo que nove morreram ainda na
infância.
Devido a dificuldades financeiras, com a idade de
dezoito meses, ele foi enviado para viver com seu avô, que, como o pai de
Charles, era um pregador calvinista obstinado. Ainda muito jovem, ele começou a
ler os livros teológicos de seu pai e avô e a ouvir com atenção conversas
teológicas. Em uma ocasião, o pastor Richard Knill profetizou sobre Charles:
“Essa criança vai um dia pregar o evangelho, e ele vai pregar a grandes
multidões”. Com dez anos de idade, Charles já estava lendo os puritanos com
grande prazer e entusiasmo.
Spurgeon começou a pregar logo depois de sua
conversão a Jesus Cristo na idade de dezesseis anos. Ele logo se tornou o mais
conhecido pregador da Bíblia no mundo em sua época, e talvez o melhor pregador
da história da Igreja fora das Escrituras, junto com João Crisóstomo (347-407).
Spurgeon pregou até dez vezes por semana, e foi ouvido por vinte milhões de
pessoas a partir de seu púlpito, ao longo de sua vida.
Quatro anos depois de sua conversão, na idade de
vinte anos, ele foi nomeado o pastor da famosa London’s New Park Street Chapel,
que antes era liderada pelo famoso teólogo Batista reformado John Gill. Sua
igreja se tornou a maior do mundo no momento de sua morte, a Metropolitan
Tabernacle.
Spurgeon foi um estudante ao longo da sua vida. Ele
tinha uma grande biblioteca construída em sua casa para que ele pudesse estudar
continuamente, e ainda estar perto de sua esposa Susannah muito adoecida. Ele
tinha uma grande mesa redonda, com uma dobradiça que lhe permitia sentar no
meio dela com os seus livros queridos ao seu redor.
Spurgeon estava também comprometido com a justiça
social, indo tão longe a ponto de pregar contra a escravidão, que o tornou
muito impopular nos Estados Unidos, onde seus sermões impressos foram proibidos
e queimados. Spurgeon era também um homem muito piedoso, que abrindo e
dirigindo um orfanato para crianças carentes. Muitos chamaram o orfanato do
maior sermão que ele um dia pregou.
Entretanto, ao longo de seu ministério, Spurgeon
viveu sob o ataque constante, tanto por sua teologia conservadora quanto por
seu ministério bem sucedido levando Spurgeon a ser expulso de sua própria
denominação batista por não desistir de ensinar coisas como tormento eterno num
inferno literal, a veracidade da Bíblia e a perfeição e inspiração divina das
Escrituras. Em seus dias, Spurgeon foi atacado por legalistas hiper-calvinistas
e liberais universalistas; o primeiro porque ele livremente pregou o evangelho
a todas as pessoas, e o segundo porque Spurgeon não acreditou que todos seriam
salvos.
Seus sermões, a partir de 1855, começaram a ser
impressos e vendidos a preços baixos para que assim as pessoas pudessem toda
semana ter seus alimento espiritual: Esses sermões completaram 63 volumes,
divididos em duas grandes seções, e completam 3563 sermões impressos sem
interrupção até 1917 ( 25 anos depois de sua morte; pois muito sermões foram
arquivados durante a vida de Spurgeon para futura publicação). É considerado o
maior volume de escritos por um cristão individualmente. É maior que a enciclopédia
britânica
O lucro obtido desses sermões serviu para ampliar a
publicação dos mesmos, bem como a manutenção de orfanatos e asilos. Tanto que o
prédio do orfanato de meninas levou o nome de “Sermão”. O sermão que mais teve
sua tiragem impressa durante a vida de Spurgeon foi o que discorria sobre a
polêmica da Regeneração Batismal praticada na Igreja da Inglaterra; chegou a
300.000 exemplares impressos em uma única semana.
Spurgeon também escreveu livros e tratados sobre a teologia
da salvação, e a vida cristã. Ele sempre priorizou que esses livros fossem
vendidos a baixo custo, para que mais pudessem ter em mãos material de
qualidade: talvez seu livreto mais famoso tenha sido o “All for Grace” (Tudo
pela Graça), mas com certeza sua maior obra literária foi “Treasury of David” (
O tesouro de Davi) uma volumosa obra que consistia em uma grande compilação de
comentários e explicações de vários autores cristão( e do próprio Spurgeon)
sobre o Livro de Salmos, levou cerca de 20 anos para concluir.
Spurgeon também fundou um colégio de pastores, para
qualificar aqueles que eram vocacionados ao mistério pastoral e evangelístico.
Por ele, a esposa de Spurgeon também levantou fundos e distribuiu muitos livros
de homilética escritos para serem ajudas aos pregadores. Nesse Colégio estudou João Manoel Gonçalves
dos Santos, brasileiro, que foi mandando para lá para ser educado a pedido de
Robert Kalley, amigo de Spurgeon, fundador da igreja Congregacional do Brasil (em
1855). Depois da morte de Spurgeon, o colégio foi rebatizado de Spurgeon College,
em homenagem a seu fundador.
Charles H. Spurgeon foi desprezado pelos
hiper-calvinistas de seu tempo por causa da sua paixão por pessoas que estavam
perdidas sem Cristo como também por sua oferta contínua em prol do evangelho da
graça para as massas, o que levou ao batismo 14.692 convertidos durante o seu
ministério. Chegou a ter sua conversão contestada em pleno jornal! Apesar da
oposição, Spurgeon nunca se esquivou de chamar a todos os homens ao
arrependimento. Ele usou meios não convencionais, tais como a reunião em um
teatro público (e não uma igreja) e a pregação em massa (não em um púlpito
elevado), num esforço de ser mais culturalmente relevante em seu estilo de
ministério. Curiosamente, porém, ele proibiu o uso de coros, órgãos e outros
instrumentos musicais nos serviços de sua igreja.
No entanto, após a sua morte, sessenta mil pessoas
passaram diante do seu caixão aberto durante um único dia, com uma multidão
semelhante no dia seguinte. Quatro memoriais foram realizados em um dia para os
membros da igreja, ministros e estudantes, membros de outras denominações, e ao
público em geral, respectivamente. A estrada para o cemitério estava cheia de
centenas de pessoas cujas vidas foram tocadas pelo poder do evangelho da graça
através desse servo de Cristo.
Charles
Haddon Spurgeon, uma vida que fez a diferença! E que em nossos dias possamos
nos posicionar como este homem diante dos desafios de nossa época para a glória
de Deus.
Um
fato muito interessante na vida de Spurgeon, é que não é conhecido o nome do
pregador que aos 16 anos, Deus usou para mudar a sua vida. Eu acho isto
maravilhoso! Eu não tenho a eloquência oral nem escrita do Spurgeon, nem
tampouco a capacidade intelectual (ele dizia conseguir identificar vários tipos
de pensamento ao mesmo tempo em sua mente), mas já que não posso ser um
Spurgeon eu peço a Deus em oração: “Que eu possa ser esse pregador
desconhecido, que Tu me uses para levantares um homem como Spurgeon nesta
nação!”.