Em tempos tão nefastos como o que vivemos com a falta de
identidade, de credibilidade, de fidelidade, de fé, de amor sincero, de
respeito mútuo, de considerações razoáveis, de empatia, de razoabilidade, de
esperança, de certezas..., lembrei-me que enquanto garoto entrei em um casarão antigo,
carcomido pelo tempo junto de dois amigos o R e o D, quem me conhece saberá quem
são eles apenas pelas inicias do nome.
Explorávamos todo os cômodos atrás de algum “tesouro”
escondido - coisas que muitos dessa geração nunca entenderão o quão mágico e
transformador é procurar algo sem saber se de fato o algo existe – A grande
casa era do período da escravidão e muitos moradores diziam que houveram
escravos naquele local e que se era possível encontrar artefatos daquele período.
Para um garoto de quinzes anos, era concretização do ser Indiana Jones e o
Templo da Perdição, imaginando como seria comer cérebro de macaco. Um bom entendedor
entenderá!
Enquanto visitávamos a senzala, que ficava no porão da casa
e era de certo que encontraríamos correntes, argolas de metais, quem sabe uma
ossada de algum escravo, a porta do porão que era sustentada por um ripa de
madeira colocada por mim se fechou. Não usarei uma onomatopeia, deixo por sua
conta. A gritaria tomou conta do lugar, os pedidos de socorro entoados por nós
assustavam a nós mesmos. Que sensação aterrorizante! Até que, depois de alguns
intervalos entre um grito e outro fomos percebendo que estávamos com os olhos
fechados.
O medo era tamanho que não percebemos que gritávamos com os OLHOS
FECHADOS, mas ao ABRIR OS OLHOS vimos uma outra janela aberta que nos permitiu
vislumbrar o quintal da casa. Saímos por ela e rapidamente e esbaforidos chegamos
no lado de fora da casa a sensação de estar fora daquele local era uma catarse,
os gritos foram substituídos por risos, gracejo, “botação de pilha”, pô Luciano
você é maior medroso, você também é kkkkkkkkkkkkk. Nunca esqueci esse dia!
Manter os olhos abertos nos permite enxergar entre a
escuridão, levantar as pálpebras nos encoraja a perceber a realidade e enfrentá-la,
como dizia Nietzsche: “a realidade nos transcende”. O oráculo dos olhos,
fornece informações para nossa mente dando-lhe capacidades para processar e
encontrar soluções, questionar, articular, PENSAR, nos permite aliar ideias e
não seguir ideias e nos tira da escuridão do não saber.
Sendo assim é imperativo ter coragem! “Não sou coach, que
fique claro!” É que para abrir os olhos é necessário realmente de coragem
física e espiritual. Paulo (Atos 9.9), ficou três dias na escuridão, não comia
e nem bebia, perdido em si mesmo, sem saber quando sairia do calabouço do não
saber, da polarização dos resultados, se viveria ou morreria na escuridão,
efeito causado pelo encontro com Cristo. Pronto, depois dessa frase o “mimimi”
vai imperar! Pastor Luciano, Cristo não é a luz do mundo? Como ele poderia ter
colocado Paulo na escuridão? Bem, Cristo de fato o deixou na escuridão, não sou
eu que estou dizendo, está no texto, a cegueira de Paulo foi acometida ao
encontrar nosso Salvador. Contudo, em alguns casos é preciso mergulhar na
escuridão do abismo para então lá e somente lá, perceber um faixo de luz ou alguém
abrir a janela e deixar a luz adentrar.
Ananias vivia vendo tudo e todos de acordo com suas
necessidades e competências, se sentia apetecido com tudo que via, nada nem
ninguém lhe tirava a visão, sua alma estava cheia do que ele via. Todavia
recebe uma visão do Senhor (Atos 9.11), perceba, ele viu algo que lhe foi
colocado e não que ele procurou ver e ao enxergar tal visão também ficou cego.
Cego de medo, de terror, de dúvidas, incertezas... “Senhor, a muitos ouvi acerca deste homem, quantos males tem feito aos
teus santos em Jerusalém;” (Atos 9.13)
Temos então nessa história dois cegos: um provocado pelo
encontro transformador de Cristo e outro pelo medo. Ananias criou coragem e
ABRIU OS OLHOS, pois começou a ver com os olhos da fé. Foi e fez o que o Senhor
lhe direcionou a fazer. Dominou seu medo, dominou as incertezas e avançou.
Paulo voltou a ver pois, Ananias trouxe luz pra o local em que havia trevas.
Não há escuridão que resista à luz do Senhor seja ela qual
for! ABRA OS OLHOS de seu entendimento, tenha coragem de ver as ranhuras de sua
alma, tenha empatia pela cegueira alheia, seja você aquele ou aquela que irá
trazer a luz, abrir uma janela, fazer cintilar a luz!
Logo, que as escamas caíram dos olhos de Paulo, seu primeiro
ato foi pregar a Cristo. E
logo nas sinagogas pregava a Cristo, que este é o Filho de Deus. (Atos 9.20).
Não há como ver a Verdade e deixar de viver a Verdade, então, ABRAMOS OS OLHOS