segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

REVELAÇÃO DE DEUS



DUAS CONVICÇÕES A RESPEITO DO TEXTO BÍBLICO
1º.    ELE É UM TEXTO INSPIRADO. Expor as Escrituras é esclarecer o texto inspirado. Revelação e inspiração andam juntas. Revelação descreve a iniciativa que Deus tomou de desvelar-se e, assim, mostrar-se, já que, sem essa revelação, ele permaneceria o Deus desconhecido. Inspiração descreve o processo pelo qual ele fez isso, isto é, falando aos profetas e aos apóstolos bíblicos e por meio deles, e sussurrando sua Palavra de sua boca de tal forma que ela também saísse da boca deles. Caso contrário, seus pensamentos teriam sido inatingíveis para nós.
A terceira palavra é providência, isto é, a amável provisão pela qual Deus providenciou para que as palavras que ele disse fossem escritas de forma a constituírem o que chamamos de Escrituras e, desse modo, as preservou ao longo dos séculos de forma a serem acessíveis a todas as pessoas em todos os lugares e em todos os tempos. As Escrituras, portanto, são a palavra de Deus escrita. É sua autorrevelação de forma falada e escrita. As Escrituras são o produto da revelação, inspiração e providência de Deus.
Essa primeira convicção é indispensável para pregadores. Se Deus não tivesse falado, nós não nos atreveríamos a falar, porque não teríamos nada a expressar exceto nossas triviais especulações. Mas já que Deus falou, nós também precisamos falar, comunicando a outros o que ele nos comunicou nas Escrituras. De fato, nós nos recusamos a ser silenciados. Como Amós o coloca: “O leão rugiu, quem não temerá? O SENHOR, o Soberano, falou, quem não profetizará?”, isto é, passe adiante a Palavra que ele disse. Similarmente, Paulo, ecoando o Salmo 116.10, escreveu: “Nós também cremos e, por isso, falamos” (2Co 4.13). Isto é, acreditamos no que Deus disse e é por isso que também falamos.
Tenho pena do pregador que chega ao púlpito sem Bíblia em suas mãos ou com uma Bíblia que é mais trapos e farrapos do que a Palavra do Deus vivo. Ele não pode expor as Escrituras porque não tem Escrituras para expor. Ele não pode falar porque não tem nada a dizer, ao menos nada importante. Ah, mas dirigir-se ao púlpito com a confiança de que Deus falou, que ele fez com que o que disse fosse escrito, e que temos esse texto inspirado em nossas mãos, aí sim nossa cabeça começa a girar, e nosso coração a bater, e nosso sangue a correr, e nossos olhos a brilhar com a glória absoluta de ter a palavra de Deus em nossas mãos e lábios.
2º.    O TEXTO INSPIRADO É, ATÉ CERTO PONTO, UM TEXTO FECHADO. Essa é a implicação da minha definição. Expor as Escrituras é esclarecer o texto inspirado. Assim, ele precisa estar parcialmente fechado se for para ser esclarecido. E eu penso que imediatamente vejo seus “pelos protestantes” eriçados com indignação. O que você quer dizer? Por acaso é que as Escrituras estão parcialmente fechadas? As Escrituras não são um livro completamente aberto? Você não acredita no que os reformadores do século XVI ensinaram a respeito da clareza das Escrituras, que elas são transparentes? Não pode até mesmo o simples e o inculto ler a Bíblia por si mesmo? Não é o Espírito Santo o nosso mestre dado por Deus? E, com a Palavra de Deus e o Espírito de Deus, não devemos dizer que não precisamos do magistério eclesiástico para nos instruir?
Eu posso responder com um ressonante sim a todas essas questões, mas o que você diz de maneira correta precisa ser classificado. A insistência dos reformadores na clareza das Escrituras se referia à sua mensagem central – seu evangelho de salvação pela fé em Jesus Cristo somente. Isso é claro como o dia nas Escrituras. Mas os reformadores não sustentavam que tudo nas Escrituras estava claro. Como eles poderiam fazer isso, quando Pedro disse que existiam algumas coisas nas cartas de Paulo que nem ele conseguia entender (2Pe 3.16)? Se um apóstolo nem sempre entendia outro apóstolo, dificilmente seríamos modestos se disséssemos que nós entendemos.
A verdade é que precisamos uns dos outros na interpretação das Escrituras. A igreja é corretamente chamada de comunidade hermenêutica, uma comunhão de crentes em que a Palavra de Deus é exposta e interpretada. De modo particular, precisamos de pastores e professores para expô-la, para esclarecê-la de modo que a possamos entender. É por isso que o Jesus Cristo que ascendeu, de acordo com Efésios 4.11, ainda está dando pastores e mestres à sua igreja.
Você se lembra o que o eunuco etíope disse na carruagem quando Felipe lhe perguntou se ele havia entendido o que estava lendo em Isaías 53? Ele disse: “Ora, é claro que posso. Você não acredita na clareza das Escrituras?”. Não, ele não disse isso. Ele disse o seguinte: “Como posso entender se alguém não me explicar?” (At 8.31).
DUAS OBRIGAÇÕES NA EXPOSIÇÃO DO TEXTO
A PRIMEIRA OBRIGAÇÃO É FIDELIDADE AO TEXTO BÍBLICO. Você e eu precisamos aceitar a disciplina de nos colocar dentro da situação dos autores bíblicos – sua história, geografia, cultura e linguagem. Se negarmos essa tarefa ou se a realizarmos de um modo relaxado ou indiferente, isso será indesculpável. Isso expressa desprezo pela maneira que Deus escolheu para falar ao mundo. Lembre-se, estamos lidando com o texto inspirado por Deus. Dizemos que acreditamos nisso, mas nosso uso das Escrituras nem sempre é compatível com o que dizemos ser nossa visão das Escrituras. Com que cuidado diligente, meticuloso e consciente deveríamos estudar por nós mesmos e esclarecer a outros as exatas palavras do Deus vivo! Assim, o erro mais grosseiro que podemos cometer é impor nossos pensamentos de século XXI às mentes dos autores bíblicos, para manipular o que eles disseram a fim de adaptar isso ao que gostaríamos que eles tivessem dito e, depois, reivindicar a defesa deles às nossas ideias.
Calvino acertou novamente quando, em seu prefácio ao comentário da carta aos romanos, escreveu uma bela frase: “É a primeira tarefa de um intérprete deixar seu autor dizer o que ele diz em vez de lhe atribuir o que nós pensamos que ele deve dizer”. É aí que começamos. Charles Simeon disse: “Meu empenho é tirar das Escrituras o que está ali e não acreditar no que eu penso que possa estar lá”.
A SEGUNDA OBRIGAÇÃO É SENSIBILIDADE PARA COM O MUNDO MODERNO. Embora Deus tenha falado ao mundo antigo em suas próprias línguas e culturas, ele pretendeu que sua Palavra fosse para todas as pessoas em todas as culturas, incluindo a nós no começo do século XXI em que nos chamou para viver. Portanto, o expositor bíblico é mais do que um exegeta. O exegeta explica o significado original do texto. O expositor vai adiante e aplica isso ao mundo moderno. Precisamos nos esforçar para entender o mundo em que Deus nos chamou para viver, pois ele está mudando rapidamente. Precisamos sentir sua dor, sua desorientação e seu desespero. Tudo isso é parte de nossa sensibilidade cristã na compaixão pelo mundo moderno.
Aqui, portanto, está nossa obrigação dupla como expositores bíblicos: esclarecer o texto inspirado das Escrituras tanto com fidelidade ao mundo antigo quanto com sensibilidade para com o mundo moderno. Nós não devemos nem falsificar a Palavra a fim de obter uma pretensa relevância nem devemos ignorar o mundo moderno a fim de obter uma pretensa fidelidade. É a combinação de fidelidade com sensibilidade que cria o expositor autêntico.
Mas porque esse processo é difícil, ele também é raro. A falha característica dos evangélicos é serem bíblicos, mas não contemporâneos. A falha característica dos liberais é serem contemporâneos, mas não bíblicos. Poucos de nós sequer começam a se importar com ser ambas as coisas simultaneamente. À medida que estudamos o texto, precisamos nos fazer duas perguntas na ordem certa. A primeira é: O que ele significou? Ou, se você preferir: O que ele significa?, porque ele significa o que significou. Como alguém disse: “Um texto significa o que seu autor quis dizer”.
Assim, o que ele significou quando ele o escreveu? Então fazemos a segunda pergunta: O que ele diz? Qual é sua mensagem hoje no mundo contemporâneo? Se agarramos seu significado sem irmos à sua mensagem, o que ele diz a nós hoje, nós nos entregamos ao estudo de antiguidades que não está relacionado ao presente ou ao mundo real em que fomos chamados para ministrar. Se, entretanto, começamos com a mensagem contemporânea sem nos ter dado à disciplina de perguntar: “O que isso significou originariamente? ”, então nós entregamos ao existencialismo – sem relação com o passado, sem relação com a revelação que Deus deu em Cristo e pelas testemunhas bíblicas de Cristo. Precisamos fazer ambas as perguntas e precisamos fazê-las na ordem correta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
O dr. Lloyd-Jones escreveu em seu grande livro Pregação e Pregadores que as eras decadentes da história da igreja foram aquelas em que a pregação decaiu. É verdade. Não apenas a pregação da Palavra, mas também o ouvir da Palavra decaiu. A pobreza espiritual de muitas igrejas por todo o mundo hoje é devida, mais do qualquer outra coisa, ou à falta de disposição em ouvir ou à incapacidade para ouvir a Palavra de Deus. Se indivíduos vivem pela Palavra de Deus, assim fazem as congregações. E uma congregação não pode amadurecer sem um ministério bíblico fiel e compreensivo e sem escutar a Palavra por si mesma.
Como devemos reagir? A reação à palavra de Deus depende do conteúdo da Palavra que foi falada.
1.      Se Deus fala a nós a respeito de si mesmo, nós respondemos nos humilhando perante ele em adoração.
2.      Se Deus fala a respeito de nós – nossa desobediência, leviandade e culpa – então respondemos em penitência e confissão.
3.      Se ele fala a nós a respeito de Jesus Cristo e a glória de sua pessoa e obra, nós respondemos em fé, agarrando-nos a esse Salvador.
4.      Se ele fala a respeito de suas promessas, nós nos determinamos a herdá-las.
5.      Se ele fala a respeito de seus mandamentos, nós nos determinamos a obedecer-lhes.
6.      Se ele fala a nós a respeito do mundo exterior e suas colossais necessidades materiais e espirituais, então respondemos quando surge dentro de nós sua compaixão para levar o evangelho por todo o mundo, para alimentar os famintos e cuidar dos pobres.
7.      Se ele fala a nós a respeito do futuro, a respeito da vinda de Cristo e da glória que se seguirá, então nossa esperança está acesa e decidimos ser santos e estar ocupados até que ele venha.
 O pregador que se aprofundou no texto, que o isolou e desenvolveu seu tema principal, e que ficou profundamente agitado ele mesmo pelo texto que estudou, baterá o martelo em sua conclusão. O pregador concederá às pessoas uma chance de reagir a ele, frequentemente em oração silenciosa à medida que cada um é conduzido pelo Espírito Santo a uma obediência apropriada.
                                   É um enorme privilégio ser um expositor bíblico – estar no púlpito com a Palavra de Deus em nossas mãos, o Espírito em nosso coração e o povo de Deus perante nossos olhos aguardando esperançosamente a voz de Deus para ser ouvida e obedecida.

A PLENITUDE DOS TEMPOS

  Gálatas 4:4 – mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei.   Neste texto o apóstolo...