sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

MINISTÉRIO PASTORAL


Em combinação com o desejo ardente de ser pastor, é preciso que haja aptidão para ensinar e certa medida das outras qualidades ne­cessárias ao ofício de instrutor público. Para provar sua vocação o homem precisa testá-la com êxito. Não pre­tendo que na primeira vez que um homem se levantar para falar, pregue tão bem como Robert Hall em seus últimos tempos. Se a sua pregação não for pior do que o grande homem fez no início da sua carreira, não deve ser condenado. Vocês sabem que Robert Hall fracassou completamente três vezes, e clamava: "Se isto não me humilhar, nada mais me humilhará". Al­guns dos mais nobres oradores não foram dos mais fluentes nos seus primeiros tempos. Mesmo Cícero no início padecia de voz fraca e dificuldade de elocu­ção. Contudo, ninguém deve considerar-se chamado para pregar enquanto não provar que pode falar em público. Claro que Deus não criou o hipopótamo para voar, e se o leviatã tivesse forte desejo de subir aos ares com a calhandra, evidentemente seria uma aspi­ração insensata, visto que não é dotado de asas. Se um homem for vocacionado para pregar, será dotado de capacidade em algum grau para falar, capacidade que ele cultivará e desenvolverá. Se o dom de elocução não existir no início em alguma medida, não é pro­vável que venha a desenvolver-se.
Ouvi falar de um cavalheiro que tinha o mais intenso desejo de pregar, e tanto insistiu com o seu pastor que, depois de múltiplas recusas, conseguiu licença para pregar um sermão de prova. Essa oportunidade foi o fim da sua importunação, pois, depois de anunciar o texto, viu-se privado de todas as idéias menos uma, que ele transmitiu sentidamente, e em seguida desceu da tribuna: "Meus irmãos", disse ele, "se algum de vocês pensa que é fácil pregar, acon­selho-o a vir até aqui para perder toda a vaidade."
A prova a que submetam as suas capacidades revelará a sua deficiência, se vocês não tiverem a aptidão necessária. Não conheço nada melhor. Devemos dar-nos a nós próprios uma boa prova nesta ques­tão, ou não poderemos saber com certeza se Deus nos chamou ou não; e durante a prova, devemos pergun­tar-nos a nós mesmos muitas vezes se, de modo geral, podemos alimentar a esperança de edificar outros com os nossos discursos.
Contudo, devemos fazer mais do que submeter isso à nossa consciência e ao nosso julgamento, pois somos juízes ineptos. Certa classe de irmãos tem gran­de facilidade para descobrir que tem sido maravilhosa e divinamente auxiliada em suas declamações. Eu inve­jaria a gloriosa liberdade e a confiança própria desses irmãos, se houvesse algum fundamento para isso. Pois, lastimavelmente, com muita freqüência tenho que de­plorar e lamentar minha falta de sucesso e meus fias­cos como orador. Não devemos confiar muito em nossa própria opinião, mas se pode aprender muito de pes­soas judiciosas e de índole espiritual. De modo ne­nhum é isto uma lei que deva obrigar a todas as pes­soas, mas ainda assim é um bom e antigo costume em muitas das nossas igrejas rurais, o jovem que aspira ao ministério pregar perante a igreja. Dificilmente é um ensaio agradável ao jovem aspirante, e, em muitos casos, mal chega a ser um exercício edificante para o povo; todavia, pode dar provas de que é um recurso disciplinar dos mais salutares, e poupa a exposição pública da ignorância excessiva. O livro de atas da igreja de Arnsby contém o seguinte registro:
 Breve relato do chamamento de Robert Hall Jú­nior para a obra do ministério, pela Igreja de Arnsby, 13 de agosto de 1780.
"O referido Robert Hall nasceu em Arnsby em 2 de maio de 1764; desde pequeno foi, não somente sério e dado à oração em secreto antes mesmo de poder falar com clareza, mas também foi sempre totalmente inclinado à obra do ministério.
Começou a compor hinos antes de completar sete anos de idade, e neles revelou sinais de piedade, de pensamento pro­fundo e de gênio. Entre oito e nove anos fez vários hinos, que foram admirados por muitos, um dos quais foi publicado na Revista do Evangelho (Gospel Magazine) aproximadamente na mesma época. Escreveu expondo os seus pensamentos sobre vários assuntos religiosos e sobre porções seletas da Escri­tura. Tinha também intensa propensão para os'estudos, e fez tanto progresso, que o mestre-escola provinciano de quem ele era aluno não pôde instruí-lo mais. Então foi enviado à escola--internato de Northampton, ficando aos cuidados do Rev. John Ryland, onde passou cerca de um ano e meio, e alcançou grande progresso em latim e grego. Em outubro de 1778, foi para a Academia de Bristol, sob os cuidados do Rev. Evans; e, em 13 de agosto de 1780, foi comissionado ao ministério por esta igreja, estando ele com dezesseis anos e três meses de idade. A maneira pela qual a igreja chegou a ficar satisfeita com a capacidade dele para a grande obra foi por ter ele pregado, quando lhe tocou a vez, nas reuniões de conferências, sobre várias porções da Escritura; nas quais, e na oração, havia participado por quase quatro anos antes; e, quando em casa, tendo pregado a pedido dos irmãos muitas vezes nas manhãs do dia do Senhor, para grande satisfação deles. Portanto, eles pediram calorosamente e unânimes que ele fosse solenemente separado para o serviço da comunidade. Com efeito, no dia acima referido, ele foi examinado por seu pai perante a igreja quanto à sua inclinação, seus motivos e seus fins em vista, com referência ao ministério, sendo-lhe mostrado igualmente o desejo de que ele fizesse uma declaração dos seus senti­mentos religiosos. Tendo-se feito tudo, para inteira satisfação da igreja, consagraram-no, pois, levantando as mãos direitas e com oração solene. Depois o seu pai fez-lhe um discurso baseado em 2 Tm. 2:1: "Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus". Sendo-lhe assim confiada a obra ministerial, pregou de tarde sobre 2 Ts. 1:7-8. "Que o Senhor o abençoe e lhe conceda grande sucesso!"
Considerável importância deve ser dada ao jul­gamento feito por homens e mulheres que vivem perto de Deus, e, na maioria dos casos, o seu veredicto não será errôneo. Contudo, este recurso não é final nem infalível, e deve ser avaliado somente em proporção à inteligência e à piedade das pessoas consultadas. Lembro-me bem do empenho com que uma piedosa matrona cristã me dissuadiu de pregar. Esforcei-me para avaliar a impotância da opinião dela com sim­plicidade e paciência — opinião essa sobrepujada, po­rém, pelo julgamento emitido por pessoas de maior experiência. Os jovens em dúvida devem fazer-se acompanhar dos seus mais sábios amigos quando vão à igreja rural ou ao salão de cultos da vila e tentam transmitir a Palavra. Já notei — e o meu amigo Rogers observou a mesma coisa — que vocês, cavalheiros, es­tudantes, como corpo estudantil, no julgamento que fazem uns dos outros raramente erram, se é que erram alguma vez. Raramente houve um caso, tomada a ins­tituição de modo global, em que a opinião geral da escola toda sobre um irmão foi errada. Os homens não são tão incapazes de formar opinião uns dos outros, como às vezes se pensa. Reunindo-se como o fazem em classe, nas reuniões de oração, nas conversas e nas vá­rias atividades religiosas, vocês se avaliam uns aos outros; e o prudente não se apressará a desprezar o veredicto da casa.
Este ponto não estará completo se eu não acres­centar que a simples capacidade para edificar e a aptidão para ensinar não bastam. São necessários outros talentos para completar a personalidade do pastor. Cri­tério sadio e sólida experiência devem instruí-lo; ma­neiras gentis e qualidades amáveis devem governá-lo; firmeza e coragem devem ser manifestas; e não devem faltar ternura e simpatia. Os dons administrativos para governar bem são condições tão necessárias como os dons instrutivos, para ensinar bem. Vocês devem ser aptos para dirigir, devem estar preparados para agüen­tar, e devem ser capazes de perseverar. Quanto à gra­ça, vocês devem estar cabeça e ombros acima do res­tante do povo, capazes de ser seu pai e seu conselheiro. Leiam cuidadosamente as qualificações do bispo, re­gistradas em 1 Tm. 3:2-7 e Tt. 1:6-9. Se esses dons e graças não estiverem em vocês, e com abundância, é possível que tenham bom êxito como evangelistas, mas como pastores não terão nenhum valor.

A PLENITUDE DOS TEMPOS

  Gálatas 4:4 – mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei.   Neste texto o apóstolo...