Podemos
nos sensibilizar bastante com o descontentamento de Deus por causa dos pecados
individuais, mas estar bem menos atentos à condição pecaminosa de um grupo do
qual fazemos parte. Assim, algumas pessoas que jamais pensariam em matar outro
ser humano, em tomar a propriedade de outra pessoa ou em fazer negócios
fraudulentos podem ser parte de uma empresa, de uma nação ou de uma classe
social que de fato pratica esses atos. Tais pessoas contribuem para a prática
desses males por meio de envolvimento financeiro (pagando taxas ou impostos),
aprovação direta (pelo voto) ou por consentimento tácito (deixando de discordar
ou de manifestar oposição).
Há
diversas razões que explicam esse fenômeno estranho:
1º.
Temos a tendência de não considerar
nossa responsabilidade aqueles atos em que não fizemos uma escolha realmente
ativa. A decisão ou a liderança do ato pode ser de outra pessoa; nós
simplesmente condescendemos com o que é feito. Temos bem menos consciência de
nossa culpa pelo que ocorre, já que tais atos seriam praticados ainda que não
participássemos do grupo.
2º.
Podemos estar tão condicionados pela
filiação a um grupo que nossa percepção da realidade fica igualmente
determinada por ele. Se, por exemplo, somos brancos, talvez nunca nos
coloquemos na situação dos negros. Esse condicionamento é tão sutil e amplo que
é possível ignorarmos que há outro lado na questão ou até acreditarmos que não
há questão alguma.
3º.
Podemos não reconhecer o egoísmo de um
grupo pelo fato de ele estar ligado a nosso egoísmo como indivíduos. Embora
haja uma tendência de considerar o pecado basicamente como egoísmo, é possível
realmente pecar de forma mais altruísta. Podemos não lucrar pessoalmente (pelo
menos não de modo óbvio e direto) com determinada ação de um grupo ao qual
pertencemos. Isso talvez nos impeça de ver que o grupo esteja agindo de modo
egoísta. Portanto, nosso sacrifício ou altruísmo em favor do grupo talvez
pareça uma virtude, mas, na verdade, podemos estar lucrando com isso de forma
indireta.
4º.
Nossos excessos podem ser bem menos
óbvios a nós, porque participamos de um grupo. Observe-se, por exemplo, o
comportamento de uma torcida local em um evento esportivo altamente disputado.
Há uma coragem, uma impetuosidade e um orgulho em relação ao time que
provavelmente bem poucos indivíduos pensariam em afirmar sobre si mesmos.
Pessoas que não manifestariam atitudes de superioridade como indivíduos podem
achar que seu país ou sua igreja são superiores aos outros.
5º.
Quanto mais afastados estivermos do
mal, menos real ele nos parecerá. Por isso, é menos provável que nos vejamos
como responsáveis. Muitos achariam difícil encarar um soldado inimigo, apontar
uma arma para ele e puxar o gatilho, pois estariam vendo a pessoa em quem estão
atirando e as consequências de um ato assim., no entanto, não seria tão difícil
participar de um bombardeiro ou de um ataque de artilharia pesada, situação em
que nem as vítimas nem as consequências dessas ações são vistas.
Se nossa responsabilidade fosse fazer a
contabilidade da empresa que fabrica munição, por exemplo, provavelmente nos
sentiríamos ainda menos culpados e responsáveis. Se estivéssemos envolvidos em
uma empresa que faz propaganda enganoso de seus produtos ou costuma fraudar a
lei, certamente nos sentiríamos mal por isso.
Se, porém, fossemos acionistas de uma
empresa que faz a mesma coisa, é provável que tivéssemos bem menos dificuldade
para pôr a cabeça no travesseiro e dormir. Em muitos casos, não sabemos o que
realmente faz um grupo do qual somos cidadãos, acionistas ou membros.
Bem, como resolver esse impasse? Paulo
afirma que o mundo e o Cristão veem as coisas de perspectiva totalmente
distinta. As coisas de Deus são absurdas para o mundo (1 Coríntios 1.21-27);
elas são desprezadas pelo mundo (V.28). Deus, porém, tornou tola a sabedoria do
mundo (1 Coríntios 1.20; 3.19). Isso se deve ao fato de que “espíritos”
diferentes estão envolvidos: “Não temos recebidos o espírito do mundo, mas,
sim, o Espírito que vem de Deus, a fim de compreendermos as coisas que nos
foram dadas gratuitamente por Deus”. (1 Coríntios 2.12).
As coisas e os dons do Espírito de Deus
não são aceitos (de/xomai – dechomai) pelo homem
natural, pois são compreendidas espiritualmente (v.14). Eles são estranhos para
ele e, portanto, não pode (ou não querem) aceita-los. Podemos ter conhecimento
real de Deus. Jesus disse: "Quem vê a mim, vê o Pai"(Jo14.9). Se
quisermos entender o amor, a santidade e o poder de Deus, basta olharmos para
Cristo.