segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

REVELAÇÃO DE DEUS



DUAS CONVICÇÕES A RESPEITO DO TEXTO BÍBLICO
1º.    ELE É UM TEXTO INSPIRADO. Expor as Escrituras é esclarecer o texto inspirado. Revelação e inspiração andam juntas. Revelação descreve a iniciativa que Deus tomou de desvelar-se e, assim, mostrar-se, já que, sem essa revelação, ele permaneceria o Deus desconhecido. Inspiração descreve o processo pelo qual ele fez isso, isto é, falando aos profetas e aos apóstolos bíblicos e por meio deles, e sussurrando sua Palavra de sua boca de tal forma que ela também saísse da boca deles. Caso contrário, seus pensamentos teriam sido inatingíveis para nós.
A terceira palavra é providência, isto é, a amável provisão pela qual Deus providenciou para que as palavras que ele disse fossem escritas de forma a constituírem o que chamamos de Escrituras e, desse modo, as preservou ao longo dos séculos de forma a serem acessíveis a todas as pessoas em todos os lugares e em todos os tempos. As Escrituras, portanto, são a palavra de Deus escrita. É sua autorrevelação de forma falada e escrita. As Escrituras são o produto da revelação, inspiração e providência de Deus.
Essa primeira convicção é indispensável para pregadores. Se Deus não tivesse falado, nós não nos atreveríamos a falar, porque não teríamos nada a expressar exceto nossas triviais especulações. Mas já que Deus falou, nós também precisamos falar, comunicando a outros o que ele nos comunicou nas Escrituras. De fato, nós nos recusamos a ser silenciados. Como Amós o coloca: “O leão rugiu, quem não temerá? O SENHOR, o Soberano, falou, quem não profetizará?”, isto é, passe adiante a Palavra que ele disse. Similarmente, Paulo, ecoando o Salmo 116.10, escreveu: “Nós também cremos e, por isso, falamos” (2Co 4.13). Isto é, acreditamos no que Deus disse e é por isso que também falamos.
Tenho pena do pregador que chega ao púlpito sem Bíblia em suas mãos ou com uma Bíblia que é mais trapos e farrapos do que a Palavra do Deus vivo. Ele não pode expor as Escrituras porque não tem Escrituras para expor. Ele não pode falar porque não tem nada a dizer, ao menos nada importante. Ah, mas dirigir-se ao púlpito com a confiança de que Deus falou, que ele fez com que o que disse fosse escrito, e que temos esse texto inspirado em nossas mãos, aí sim nossa cabeça começa a girar, e nosso coração a bater, e nosso sangue a correr, e nossos olhos a brilhar com a glória absoluta de ter a palavra de Deus em nossas mãos e lábios.
2º.    O TEXTO INSPIRADO É, ATÉ CERTO PONTO, UM TEXTO FECHADO. Essa é a implicação da minha definição. Expor as Escrituras é esclarecer o texto inspirado. Assim, ele precisa estar parcialmente fechado se for para ser esclarecido. E eu penso que imediatamente vejo seus “pelos protestantes” eriçados com indignação. O que você quer dizer? Por acaso é que as Escrituras estão parcialmente fechadas? As Escrituras não são um livro completamente aberto? Você não acredita no que os reformadores do século XVI ensinaram a respeito da clareza das Escrituras, que elas são transparentes? Não pode até mesmo o simples e o inculto ler a Bíblia por si mesmo? Não é o Espírito Santo o nosso mestre dado por Deus? E, com a Palavra de Deus e o Espírito de Deus, não devemos dizer que não precisamos do magistério eclesiástico para nos instruir?
Eu posso responder com um ressonante sim a todas essas questões, mas o que você diz de maneira correta precisa ser classificado. A insistência dos reformadores na clareza das Escrituras se referia à sua mensagem central – seu evangelho de salvação pela fé em Jesus Cristo somente. Isso é claro como o dia nas Escrituras. Mas os reformadores não sustentavam que tudo nas Escrituras estava claro. Como eles poderiam fazer isso, quando Pedro disse que existiam algumas coisas nas cartas de Paulo que nem ele conseguia entender (2Pe 3.16)? Se um apóstolo nem sempre entendia outro apóstolo, dificilmente seríamos modestos se disséssemos que nós entendemos.
A verdade é que precisamos uns dos outros na interpretação das Escrituras. A igreja é corretamente chamada de comunidade hermenêutica, uma comunhão de crentes em que a Palavra de Deus é exposta e interpretada. De modo particular, precisamos de pastores e professores para expô-la, para esclarecê-la de modo que a possamos entender. É por isso que o Jesus Cristo que ascendeu, de acordo com Efésios 4.11, ainda está dando pastores e mestres à sua igreja.
Você se lembra o que o eunuco etíope disse na carruagem quando Felipe lhe perguntou se ele havia entendido o que estava lendo em Isaías 53? Ele disse: “Ora, é claro que posso. Você não acredita na clareza das Escrituras?”. Não, ele não disse isso. Ele disse o seguinte: “Como posso entender se alguém não me explicar?” (At 8.31).
DUAS OBRIGAÇÕES NA EXPOSIÇÃO DO TEXTO
A PRIMEIRA OBRIGAÇÃO É FIDELIDADE AO TEXTO BÍBLICO. Você e eu precisamos aceitar a disciplina de nos colocar dentro da situação dos autores bíblicos – sua história, geografia, cultura e linguagem. Se negarmos essa tarefa ou se a realizarmos de um modo relaxado ou indiferente, isso será indesculpável. Isso expressa desprezo pela maneira que Deus escolheu para falar ao mundo. Lembre-se, estamos lidando com o texto inspirado por Deus. Dizemos que acreditamos nisso, mas nosso uso das Escrituras nem sempre é compatível com o que dizemos ser nossa visão das Escrituras. Com que cuidado diligente, meticuloso e consciente deveríamos estudar por nós mesmos e esclarecer a outros as exatas palavras do Deus vivo! Assim, o erro mais grosseiro que podemos cometer é impor nossos pensamentos de século XXI às mentes dos autores bíblicos, para manipular o que eles disseram a fim de adaptar isso ao que gostaríamos que eles tivessem dito e, depois, reivindicar a defesa deles às nossas ideias.
Calvino acertou novamente quando, em seu prefácio ao comentário da carta aos romanos, escreveu uma bela frase: “É a primeira tarefa de um intérprete deixar seu autor dizer o que ele diz em vez de lhe atribuir o que nós pensamos que ele deve dizer”. É aí que começamos. Charles Simeon disse: “Meu empenho é tirar das Escrituras o que está ali e não acreditar no que eu penso que possa estar lá”.
A SEGUNDA OBRIGAÇÃO É SENSIBILIDADE PARA COM O MUNDO MODERNO. Embora Deus tenha falado ao mundo antigo em suas próprias línguas e culturas, ele pretendeu que sua Palavra fosse para todas as pessoas em todas as culturas, incluindo a nós no começo do século XXI em que nos chamou para viver. Portanto, o expositor bíblico é mais do que um exegeta. O exegeta explica o significado original do texto. O expositor vai adiante e aplica isso ao mundo moderno. Precisamos nos esforçar para entender o mundo em que Deus nos chamou para viver, pois ele está mudando rapidamente. Precisamos sentir sua dor, sua desorientação e seu desespero. Tudo isso é parte de nossa sensibilidade cristã na compaixão pelo mundo moderno.
Aqui, portanto, está nossa obrigação dupla como expositores bíblicos: esclarecer o texto inspirado das Escrituras tanto com fidelidade ao mundo antigo quanto com sensibilidade para com o mundo moderno. Nós não devemos nem falsificar a Palavra a fim de obter uma pretensa relevância nem devemos ignorar o mundo moderno a fim de obter uma pretensa fidelidade. É a combinação de fidelidade com sensibilidade que cria o expositor autêntico.
Mas porque esse processo é difícil, ele também é raro. A falha característica dos evangélicos é serem bíblicos, mas não contemporâneos. A falha característica dos liberais é serem contemporâneos, mas não bíblicos. Poucos de nós sequer começam a se importar com ser ambas as coisas simultaneamente. À medida que estudamos o texto, precisamos nos fazer duas perguntas na ordem certa. A primeira é: O que ele significou? Ou, se você preferir: O que ele significa?, porque ele significa o que significou. Como alguém disse: “Um texto significa o que seu autor quis dizer”.
Assim, o que ele significou quando ele o escreveu? Então fazemos a segunda pergunta: O que ele diz? Qual é sua mensagem hoje no mundo contemporâneo? Se agarramos seu significado sem irmos à sua mensagem, o que ele diz a nós hoje, nós nos entregamos ao estudo de antiguidades que não está relacionado ao presente ou ao mundo real em que fomos chamados para ministrar. Se, entretanto, começamos com a mensagem contemporânea sem nos ter dado à disciplina de perguntar: “O que isso significou originariamente? ”, então nós entregamos ao existencialismo – sem relação com o passado, sem relação com a revelação que Deus deu em Cristo e pelas testemunhas bíblicas de Cristo. Precisamos fazer ambas as perguntas e precisamos fazê-las na ordem correta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
O dr. Lloyd-Jones escreveu em seu grande livro Pregação e Pregadores que as eras decadentes da história da igreja foram aquelas em que a pregação decaiu. É verdade. Não apenas a pregação da Palavra, mas também o ouvir da Palavra decaiu. A pobreza espiritual de muitas igrejas por todo o mundo hoje é devida, mais do qualquer outra coisa, ou à falta de disposição em ouvir ou à incapacidade para ouvir a Palavra de Deus. Se indivíduos vivem pela Palavra de Deus, assim fazem as congregações. E uma congregação não pode amadurecer sem um ministério bíblico fiel e compreensivo e sem escutar a Palavra por si mesma.
Como devemos reagir? A reação à palavra de Deus depende do conteúdo da Palavra que foi falada.
1.      Se Deus fala a nós a respeito de si mesmo, nós respondemos nos humilhando perante ele em adoração.
2.      Se Deus fala a respeito de nós – nossa desobediência, leviandade e culpa – então respondemos em penitência e confissão.
3.      Se ele fala a nós a respeito de Jesus Cristo e a glória de sua pessoa e obra, nós respondemos em fé, agarrando-nos a esse Salvador.
4.      Se ele fala a respeito de suas promessas, nós nos determinamos a herdá-las.
5.      Se ele fala a respeito de seus mandamentos, nós nos determinamos a obedecer-lhes.
6.      Se ele fala a nós a respeito do mundo exterior e suas colossais necessidades materiais e espirituais, então respondemos quando surge dentro de nós sua compaixão para levar o evangelho por todo o mundo, para alimentar os famintos e cuidar dos pobres.
7.      Se ele fala a nós a respeito do futuro, a respeito da vinda de Cristo e da glória que se seguirá, então nossa esperança está acesa e decidimos ser santos e estar ocupados até que ele venha.
 O pregador que se aprofundou no texto, que o isolou e desenvolveu seu tema principal, e que ficou profundamente agitado ele mesmo pelo texto que estudou, baterá o martelo em sua conclusão. O pregador concederá às pessoas uma chance de reagir a ele, frequentemente em oração silenciosa à medida que cada um é conduzido pelo Espírito Santo a uma obediência apropriada.
                                   É um enorme privilégio ser um expositor bíblico – estar no púlpito com a Palavra de Deus em nossas mãos, o Espírito em nosso coração e o povo de Deus perante nossos olhos aguardando esperançosamente a voz de Deus para ser ouvida e obedecida.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

O QUE É CRISTO?



            Jesus chamava às pessoas a si, dizendo: Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso (Mateus 11.28). Buda disse: “Não olhem para mim, olhem para minha dharma(doutrina)”. Buda também declarou: “Sejam lâmpadas em si próprios”; enquanto Jesus afirmou: Eu sou a luz do mundo (João 18.12).
            Buda, Confúcio, Maomé, Gandhi... Como outros fundadores de religião, não realizaram milagres e não ressuscitaram dos mortos. Jesus curou cegos de nascença, surdos, mudos, libertou endemoniados, ressuscitou mortos. Além disso, Ele andou sobre o mar, reprendeu os ventos. Ele mesmo ressuscitou como prova de sua divindade.
            E o mais surpreendente de tudo foi que Jesus atraiu a crucificação, pois, ao dizer: Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu sou (João 8.58), Ele declarou o nome sagrado que Deus havia revelado a Moisés, o nome que Deus usava para falar de si próprio (Êxodo 3.14). Se Jesus não fosse Deus, ninguém jamais na história teria dito uma blasfêmia maior do que essa. Sendo assim, com base na lei judaica, ninguém merecia ser crucificado mais do Jesus.
Assim sendo, Cristo é nossa esperança, significado, propósito jamais apresentados à vida humana. Temos de tornar-nos santos nesta vida e viver como que “pequenos Cristos” de agora em diante. Que destino excelente!

terça-feira, 13 de novembro de 2018

APLICAÇÕES: AMAR A DEUS E AMAR AO PRÓXIMO


Jesus concordou que amar a Deus e amar ao próximo são as coisas que temos que fazer para ir para o céu. Em outra ocasião ele disse que estes são os dois maiores mandamentos (Mateus 22.37-39). É impossível ressaltar demais estes dois princípios. Contudo, o amor é pouco entendido e ainda menos praticado. Muitos veem o amor como uma sensação, um sentimento ou emoção. Uma vez que têm uma bondosa disposição para com Deus e um espírito pacífico para com os outros, eles creem que já cumpriram todas as responsabilidades do amor. Precisamos prestar cuidadosa atenção a estas ilustrações do amor porque elas nos ajudam a entender o que o amor realmente significa na prática.
O bom samaritano socorreu o homem necessitado. O amor é ativo. O amor vê aqueles que têm problemas --físicos ou espirituais-- e sente compaixão por eles. Muitas pessoas estão muito absorvidas consigo mesmas para se preocuparem com os outros e suas dificuldades. Para amar como o samaritano amou, precisamos esquecer de nós mesmos e nos comovermos com o sofrimento dos outros. Isso nunca é mais verdadeiro do que quando vemos pessoas que precisam de auxílio espiritual. Jesus viu as multidões como ovelhas sem pastor e sentiu compaixão por elas, ainda que ele mesmo estivesse exausto (Marcos 6.34). Ele partilhou ansioso a água viva com uma mulher imoral, a despeito de sua própria fome, sede e fadiga (João 4). O amor aceita riscos para ajudar os outros. Algumas vezes o maior risco que tememos é a rejeição. Se outras pessoas desprezarem nossas tentativas para ajudá-las, sentiríamos feridos. Assim, buscando isolar-nos do risco de ter nosso ego arranhado, evitamos aproximarmo-nos delas. É arriscado convidar um vizinho a ler a Bíblia conosco, chegar a um irmão e reprová-lo, ou desafiar um amigo com respeito à vida dele. O amor arrisca rejeição para ajudar os outros. O amor faz o que pode. Não podemos fazer tudo o que alguém possa precisar, mas podemos fazer alguma coisa. Não temos todas as respostas, mas temos algumas. O amor serve.
Maria escolheu a boa parte e essa escolha demonstrou seu amor por Jesus. Nossas escolhas sempre demonstram o que amamos. E uma coisa é certa: escolhas serão feitas porque ninguém pode fazer tudo. Algumas coisas que, por si mesmas, são boas e apropriadas, terão que ser omitidas. O que escolheremos? Algumas pessoas escolhem o urgente em vez do importante, fazendo as coisas que precisam ser feitas imediatamente em vez das coisas que são muito mais valiosas a longo prazo. Uma vez que muitas tarefas espirituais (coisas como orar e estudar) podem ser feitas a qualquer tempo, elas tendem a ser postas de lado enquanto nos concentramos em atividades com limite de tempo. Alguns escolhem as coisas que são visíveis em vez das coisas que as pessoas não podem ver. Uma vez que as atividades espirituais não são percebidas pelos outros, elas podem ser facilmente negligenciadas. Marta recebeu bem a Cristo, porém não escolheu a boa parte. Tinha tantas outras coisas que a sobrecarregavam e preocupavam que não teve tempo para sentar-se e ouvir Jesus. O tempo que gastamos com Jesus é um sinal de quanto o amamos.
O amor é a chave para herdar a vida eterna. Amamos a Deus? Amamos nosso próximo?

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

AMAR A DEUS



E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa; E tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Marta, porém, andava distraída em muitos serviços; e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá de que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude. E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; E Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada. Lucas 10:38-42
Marta era uma boa senhora. Ela recebeu bem Jesus em sua casa. Ela poderia ter-se incomodado com o serviço extra e a perturbação que sua visita traria e ter pedido a Ele que se fosse, mas não o fez. Ela estava ansiosa por sentar-se e ouvir o Senhor, como sua irmã Maria estava fazendo, mas as exigências de suas preparações deixaram-na sem tempo para fazer isso. Talvez ela estivesse preparando uma refeição, limpando a casa ou atendendo às outras tarefas domésticas da família. Seus elevados padrões nessa área e sua compulsão para ter as coisas bem em ordem para a visita de Jesus frustraram-na grandemente. Ela ficou irada porque sua irmã não a estava ajudando. Jesus apontou o problema dela: estava aflita e aturdida por muitas coisas. Não eram coisas más, porém não eram "aquela coisa" de importância suprema. Ela estava aplicando esforço de primeira qualidade a atividades de segunda qualidade.
Maria, em contraste, sentou-se aos pés de Jesus, ouvindo-o. Havia uma refeição para ser preparada, talvez uma casa para ser limpa, mas Maria escolheu passar o seu tempo com seu Senhor. Tanto Maria como Marta tinham algum amor por Jesus. Mas Maria era aquela que amava a Jesus com "todo" o seu coração, com "toda" a sua alma, com "toda" a sua força, e com "todo" o seu entendimento. Amar assim a Cristo significa escolher buscar as prioridades espirituais, mesmo se isso significar fazer outras coisas não tão bem, ou mesmo não as fazer.

sábado, 3 de novembro de 2018

AMAR O TEU PRÓXIMO



A parábola do bom samaritano (Lucas 10:30-37) é um dos mais conhecidos ensinamentos de Jesus. A história apresenta quatro conjuntos de personagens: O homem que foi roubado, espancado e deixado como morto. Quase nada sabemos sobre este homem, exceto que estava viajando de Jerusalém para Jericó. Não sabemos sua classe social, seu caráter, nem mesmo sua raça. Não sabemos se ele tinha feito alguma coisa para merecer estes ferimentos. Não faz diferença: O amor ao próximo responde à necessidade, não à identidade da pessoa.  Os assaltantes. Eles se aproveitaram de sua vítima, tomaram o que puderam, e se desfizeram dela. Muitos hoje em dia olham para os outros do mesmo modo que os ladrões. Procuram ganhar o que podem de alguém e depois não se preocupam mais com ele. Um sacerdote e um levita que estavam viajando pela estrada. Eles viram o homem ferido e se desviaram, passando pelo outro lado. A despeito da posição religiosa deles, evidentemente encontraram alguma desculpa para não ajudar. O samaritano. Um judeu poderia ter esperado que o samaritano tivesse sido o vilão da história. Mas Jesus mostrou que alguns dos desprezados samaritanos eram mais justos até mesmo que sacerdotes e levitas.
O que tornou o samaritano diferente? Ele teve compaixão pelo homem ferido. Os outros estavam tão absorvidos consigo mesmos que realmente não se interessaram por ele, mas quando o samaritano viu a vítima, ele teve compaixão dela. Ele se arriscou. O assalto mostrava vividamente que a estrada era perigosa. Mas ele parou, cuidou dos ferimentos do homem e levou-o a uma hospedaria para receber tratamento. Ele fez o que pôde. O samaritano não era um centro médico totalmente equipado. Ele não era médico. Ele não construiu nenhum hospital. Sem dúvida, havia outros que poderiam estar bem mais qualificados para ajudar se estivessem na cena. Mas este samaritano fez o que pôde com o que tinha. Ele tomou de seu próprio óleo e vinho e tratou os ferimentos. Ele usou seu próprio animal para transportar o homem. Ele pagou a estadia do homem na hospedaria e prometeu pagar quaisquer despesas restantes quando voltasse.
Jesus perguntou ao intérprete da Lei qual deles tinha-se mostrado ser o próximo do homem ferido. Ele respondeu corretamente que foi aquele que o tinha socorrido. O homem tinha aprendido que a identidade de nosso próximo não depende de lugar ou raça, mas que todo aquele que necessita de nossa ajuda é nosso próximo. De novo, Jesus ordenou ao homem: "Vai e procede tu de igual modo" (Lucas 10.37). O amor precisa ser praticado, não admirado.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

A DIFICULDADE DE RECONHECER O PECADO SOCIAL.



Podemos nos sensibilizar bastante com o descontentamento de Deus por causa dos pecados individuais, mas estar bem menos atentos à condição pecaminosa de um grupo do qual fazemos parte. Assim, algumas pessoas que jamais pensariam em matar outro ser humano, em tomar a propriedade de outra pessoa ou em fazer negócios fraudulentos podem ser parte de uma empresa, de uma nação ou de uma classe social que de fato pratica esses atos. Tais pessoas contribuem para a prática desses males por meio de envolvimento financeiro (pagando taxas ou impostos), aprovação direta (pelo voto) ou por consentimento tácito (deixando de discordar ou de manifestar oposição).
Há diversas razões que explicam esse fenômeno estranho:
1º.   Temos a tendência de não considerar nossa responsabilidade aqueles atos em que não fizemos uma escolha realmente ativa. A decisão ou a liderança do ato pode ser de outra pessoa; nós simplesmente condescendemos com o que é feito. Temos bem menos consciência de nossa culpa pelo que ocorre, já que tais atos seriam praticados ainda que não participássemos do grupo.
2º.   Podemos estar tão condicionados pela filiação a um grupo que nossa percepção da realidade fica igualmente determinada por ele. Se, por exemplo, somos brancos, talvez nunca nos coloquemos na situação dos negros. Esse condicionamento é tão sutil e amplo que é possível ignorarmos que há outro lado na questão ou até acreditarmos que não há questão alguma.
3º.   Podemos não reconhecer o egoísmo de um grupo pelo fato de ele estar ligado a nosso egoísmo como indivíduos. Embora haja uma tendência de considerar o pecado basicamente como egoísmo, é possível realmente pecar de forma mais altruísta. Podemos não lucrar pessoalmente (pelo menos não de modo óbvio e direto) com determinada ação de um grupo ao qual pertencemos. Isso talvez nos impeça de ver que o grupo esteja agindo de modo egoísta. Portanto, nosso sacrifício ou altruísmo em favor do grupo talvez pareça uma virtude, mas, na verdade, podemos estar lucrando com isso de forma indireta.
4º.   Nossos excessos podem ser bem menos óbvios a nós, porque participamos de um grupo. Observe-se, por exemplo, o comportamento de uma torcida local em um evento esportivo altamente disputado. Há uma coragem, uma impetuosidade e um orgulho em relação ao time que provavelmente bem poucos indivíduos pensariam em afirmar sobre si mesmos. Pessoas que não manifestariam atitudes de superioridade como indivíduos podem achar que seu país ou sua igreja são superiores aos outros.
5º.   Quanto mais afastados estivermos do mal, menos real ele nos parecerá. Por isso, é menos provável que nos vejamos como responsáveis. Muitos achariam difícil encarar um soldado inimigo, apontar uma arma para ele e puxar o gatilho, pois estariam vendo a pessoa em quem estão atirando e as consequências de um ato assim., no entanto, não seria tão difícil participar de um bombardeiro ou de um ataque de artilharia pesada, situação em que nem as vítimas nem as consequências dessas ações são vistas.
Se nossa responsabilidade fosse fazer a contabilidade da empresa que fabrica munição, por exemplo, provavelmente nos sentiríamos ainda menos culpados e responsáveis. Se estivéssemos envolvidos em uma empresa que faz propaganda enganoso de seus produtos ou costuma fraudar a lei, certamente nos sentiríamos mal por isso.
Se, porém, fossemos acionistas de uma empresa que faz a mesma coisa, é provável que tivéssemos bem menos dificuldade para pôr a cabeça no travesseiro e dormir. Em muitos casos, não sabemos o que realmente faz um grupo do qual somos cidadãos, acionistas ou membros.
Bem, como resolver esse impasse? Paulo afirma que o mundo e o Cristão veem as coisas de perspectiva totalmente distinta. As coisas de Deus são absurdas para o mundo (1 Coríntios 1.21-27); elas são desprezadas pelo mundo (V.28). Deus, porém, tornou tola a sabedoria do mundo (1 Coríntios 1.20; 3.19). Isso se deve ao fato de que “espíritos” diferentes estão envolvidos: “Não temos recebidos o espírito do mundo, mas, sim, o Espírito que vem de Deus, a fim de compreendermos as coisas que nos foram dadas gratuitamente por Deus”. (1 Coríntios 2.12).
As coisas e os dons do Espírito de Deus não são aceitos (de/xomai dechomai) pelo homem natural, pois são compreendidas espiritualmente (v.14). Eles são estranhos para ele e, portanto, não pode (ou não querem) aceita-los. Podemos ter conhecimento real de Deus. Jesus disse: "Quem vê a mim, vê o Pai"(Jo14.9). Se quisermos entender o amor, a santidade e o poder de Deus, basta olharmos para Cristo.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

CARÁTER CRISTÃO



Segundo o Dicionário Aurélio, caráter é definido por: “qualidade inerente a uma pessoa, animal ou coisa; o que os distingue de outra pessoa, animal ou coisa; o conjunto dos traços particulares, o modo de ser de um indivíduo, ou de um grupo; índole, natureza, temperamento”.
O significado literal do termo grego charaktēr é “estampa”, “impressão”, “gravação”, “sinal”, “marca” ou “reprodução exata”.
Caráter é algo que vai sendo formado e impresso com o tempo em nosso interior, uma verdadeira marca. O caráter de cada qual não é formado do dia para noite. É um processo gradual que está relacionado a um amplo conjunto de fatores que influenciam na formação de cada um.
Meios como TV, internet, família, religião, infância, desprazeres, decepções, alegrias, enfim, uma gama variada de fatores influencia na formação do caráter de cada indivíduo. Desde o berço.
O CARÁTER CRISTÃO – FORMAÇÃO, INFLUÊNCIAS E VIRTUDES
Assim como o caráter de cada indivíduo é formado desde o berço, nosso caráter cristão também passa a ser moldado desde o primeiro passo de nossa caminhada com Cristo (Jo 1.12; 3.3). Os valores do Reino de Deus passam a ser impressos em nós, para que verdadeiramente possamos ser seguidores de Jesus Cristo genuinamente.
Deus usa de muitos meios e formas para que o caráter de seus filhos seja formado, mas sem dúvida alguma, o principal fator de influência é o agir da Palavra dEle na vida de cada um, bem como o consolo e direção que o Espírito Santo dá aos Seus (Ef 1.13). Afinal, o que pode ser considerado como um caráter cristão? Podemos relacionar alguns pontos, que evidentemente, não serão os únicos:
1.      Não se trata apenas de bons valores morais | Apesar do cristianismo carregar implicitamente um forte viés moral – pois a Bíblia nos dá parâmetros morais – o caráter cristão não está repousando apenas sobre o fato de ser “bom”. A boa moral está contida, mas de modo algum é o todo. Cada um de nós pode dar exemplos de pessoas que confessam ser cristãs, mas que não são bons exemplos de conduta digna, bem como pessoas não-cristãs que são cidadãos de bem.
2.      O cristão genuinamente bíblico admite suas falhas | Cada um de nós, sem exceção, é um pecador (Rm 3.23). Todos temos o pecado dentro de nós, e isso produz limitações e consequentemente falhas. A virtude do cristão de caráter é ser transparente, é ter dignidade suficiente para admitir que é limitado e que depende completamente da misericórdia e graça do Senhor.
3.      O caráter moldado cria controle | Quando nosso caráter entra em fase de maturidade, conseguiremos controlar situações que de algum modo podem manchar a marca de Jesus em nós, afetando nosso testemunho cristão. Neste ponto de plenitude, não haverá espaço para amargura, ira, discórdia, egoísmo, arrogância, discussões, facções. Apesar de – eventualmente – tais coisas ocorrerem, precisam ser enfrentadas e enfraquecidas. Nosso ser por completo, mente, atitude, palavras, precisa ser um meio de culto e adoração permanente (Mc 12.30; Gl 5.22).
Com tal caráter formado em nós, passaremos a frutificar em atitudes que atestam que somos de Deus e temos Sua Palavra em nossas vidas. Passamos a frutificar em virtudes, como:
Ø  Pureza | vida separada – santificação – para o Senhor. Uma vida distinta num mundo corrupto (Fp 4.8).
Ø  Imparcialidade | trataremos a todos – seja quem for – de modo único, sem acepção de pessoas. Seremos justos com as pessoas, independente de afinidade, sejam amigos, parentes, irmãos, parceiros de caminhada (1Ts 5.15).
Ø  Sem fingimento | é prezar pela verdade. Não existe espaço para máscaras e ânimo duplo (1Pe 2.1; Tg 4.8). Humildade | ninguém é autossuficiente. Vaidade e soberba não devem encontrar espaço no coração do cristão; tais coisas devem ser banidas de nosso meio! Somos um corpo e dependemos uns dos outros (Mt 5.3). Mansidão | serenidade. Ser manso, não permitindo que disputas e discórdias tomem conta. Gentil, sensível e paciente com todos (Mt 5.5).
Ø  Misericórdia | compaixão pela dor, “pela miséria do coração” alheio. Entender que nosso próximo pode passar por lutas, dores, infelicidades extremas. Experimentar e participar do sofrimento alheio (Mt 5.7)
Ø  Coração puro | ser livre de impurezas no altar – no coração. Relacionamento constante com Deus e com a Sua presença, nos limpando genuinamente daquilo que nos separa dEle (Mt 5.8).
Desenvolvamos rapidamente nosso Caráter Cristão!

Pr. Luciano Garcia, sem cera

sábado, 14 de julho de 2018

A Aliança da Graça





"Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e, sim da graça." Romanos 6:14

A frase, "a aliança da graça" não aparece nas Escrituras, embora seja a expressão mais correta com respeito da nossa salvação. A característica maior da nova aliança é a graça de Deus.

"Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa; mas onde abundou o pecado, super abundou a graça." Romanos 5:20

A palavra "graça" tem dois sentidos. Primeiro é a disposição divina de nos amar sem qualquer mérito da nossa parte; amor demonstrado pelo sacrifício de Jesus por nós. Segundo, a graça de Deus significa o poder do Espírito Santo que opera em nós, tornando-nos crentes dignos da nossa chamada.
Verificamos, mais uma vez, o contraste entre as   duas   alianças:   o   que   a  lei   exigiu   a   graça realiza; o que a velha prometeu, a nova produz; onde sobrou pecado na velha aliança, a graça ca­racteriza a nova. Vejamos a extensão da graça de Deus:

"Sendo justificados gratuitamente, por sua graça." Romanos 3:24
"Porque a lei foi dada por intermédio de Moi­sés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo." João 1:17
"E se é pela graça, já não é pelas obras; do con­trário, a graça já não é graça." Romanos 11:6
"E estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo ... porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus." Efésios 2:5, 8
"Que nos salvou e nos chamou com santa vo­cação; não segundo as nossas obras, mas con­forme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos" II Timóteo 1:9

O que é a graça de Deus? É poder e força espiritual; é algo que nos foi dado por sermos in­capazes de produzir por conta própria. A graça de Deus é salvação, justificação, sustento, perdão. Somos salvos dos nossos pecados pela graça de Deus que opera em nós por Cristo Jesus.

AS TRÊS POSSIBILIDADES
Se a nova aliança se baseia na velha e a graça de Deus é consequência das promessas, da lei, restam três possibilidades para quem deseja seguir as recomendações Bíblicas: viver sob a lei como o povo de Israel, abandonar a escravidão da lei para viver inteiramente sob a graça de Deus, ou mistu­rar uma com a outra e tentar tirar "o melhor" das duas alianças.
O apóstolo Paulo teve o problema constante de orientar os novos crentes a respeito da morte da lei e a liberdade da nova aliança. Os "mensa­geiros de Satanás" que o seguiram queriam escravisar outra vez os que saíram da velha aliança e nas suas cartas Paulo afirmou que se entra na segunda aliança pela fé e pela graça de Deus.

"ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado? Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei, ou pela pregação da fé?" Gaiatas 3:1, 2

A tentação de misturar a lei com a graça ainda existe. Há quem queira nos enganar com filosofias engenhosas sobre um dia especial para adoração, ou proibição quanto à comida de carne, ou leis externas sobre a santidade. Estes regula­mentos nada servem senão para destruir o poder da graça de Deus.
Não se pode misturar água com óleo, nem o leste com o oeste, nem a lei com a graça. A frase, "a lei Cristã" faz tanto sentido quanto a frase; "pecado espiritual". Tal coisa não existe. A salva­ção não vem pela obediência à lei, mas inteira­mente pela graça.

"Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais agora vos aperfeiçoando na carne?" Gaiatas 3:3

A graça que nos perdoa, nos santifica. A graça de Deus vive em contraste eterno com as obras da carne. Não pode haver mistura dos dois.
 E se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça." Romanos 11:6

Supliquemos que Deus abra os nossos olhos. Em a nova aliança, a graça de Deus é tudo; o sacrifício de Jesus é suficiente; a nossa parte é aceitar a provisão divina e obedecer a Deus pela fé.

"Graça e paz nos sejam multiplicadas." I Pedro 1

segunda-feira, 2 de julho de 2018

LIBERTANDO-SE DE UMA CEGUEIRA ESPIRITUAL (Marcos 3.1-6)


Um olho mau contra a maravilhosa obra de Deus, o que pôs fim na miséria humana! Isso mostra o verdadeiro caráter deles, a dureza de seu coração, a superficialidade da espiritualidade daqueles doutores da lei. "Para Deus em ação, essa cegueira no mundo pode ocorrer sempre que algum interesse ou tradição particular, que os homens elevam acima de tudo, é ameaçado"
            Como ilustração disso, lembremo-nos da ausência da igreja na oposição à servidão, nos tempos antigos e modernos. A condição econômica do mundo, bem como dos indivíduos na igreja, poderia ser debilitada se aquela horrenda prática fosse abolida. O dinheiro fecha a boca dos homens; e eles ainda não tinham suficiente desenvolvimento humanitário, quanto menos o espiritual, para ver como era péssima a escravatura. Assim é que hoje em dia muitos fazem do próximo seu "escravo do salário", e muitos crentes são culpados disso.
As vantagens pessoais e o lucro podem transformar os homens assim, e podem eles tornar-se opositores da obra de Deus no mundo. É quase sempre alguma forma de egoísmo que leva os homens a terem uma pequena visão da realidade espiritual e suas operações.
estavam observando..." O imperfeito é usado para indicar um processo contínuo. Seus olhos observavam, enquanto Jesus via o homem aproximar-se dele, chamá-lo para o centro etc. Eram olhos de ódio e inveja, baseados em dogmas deprimentes, cegados pelas tradições, embotados pelo ordinário, bitolados pelas convenções.
Jesus disse ao homem da mão atrofiada: "Levante-se e venha para o meio". (Marcos 3.3)
"Mediante esse ato, Jesus transferiu a atenção dos criticadores para o milagre que ele estava prestes a realizar. Não como um milagre, porém, e, sim, como um caso que envolvia o princípio em disputa, entre ele mesmo e eles, no tocante à cura em dia de sábado" (Gould, in loc.). "Então, com o homem de pé, na presença de todos, Jesus passou a catequizar os que só viam faltas" (Bruce, in loc.).
Depois Jesus lhes perguntou: "O que é permitido fazer no sábado: o bem ou o mal, salvar a vida ou matar? " Mas eles permaneceram em silêncio. (Marcos 3.4)
O argumento de Jesus é irresistível, do ponto de vista espiritual. No entanto, eles pensavam: "Poder-se-ia esperar até amanhã. Este não é um caso de emergência; e, de acordo com a lei, somente casos de emergência podem ser atendidos no sábado". Este versículo é o anúncio de um grande princípio espiritual, mediante o que os absurdos das tradições dos escribas foram postos de lado. Conforme Marcos 2.27, quanto à mesma questão: "O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado". Portanto, sendo o homem a medida do sábado, certamente ele pôde receber cura espiritual naquele dia, o que visará definidamente ao seu benefício. Há um provérbio que diz: "Quanto melhor for o dia, tanto melhor será o feito". Que dia melhor poderia haver para urna cura feita por Deus, do que um dia separado para a honra de Deus?
"[...] salvar a vida ou tirá-la?..." Eles já tinham planejado homicídio em seu coração, e isso em dia de sábado. Não é impossível que Jesus tenha tecido referência, aqui, ao espírito assassino deles, que já estava em processo de desenvolvimento. Jesus estava prestes a curar; e eles estavam prestes a matar (ver o v. 6). Imensos hipócritas! Objetavam a milagres transmissores de vida em dia de sábado, mas, ao mesmo tempo, planejavam a morte de um homem bom. Em certo sentido, as necessidades humanas desconhecem leis. Certamente devem tomar precedência acima da maquinaria eclesiástica e dos preconceitos tradicionais. Jesus reputava o "não curar" com uma omissão temporária, o que era atitude dos escribas. Para ele, seria uma maldade positiva deixar de fazer o bem possível. Esse é um elevado raciocínio espiritual, algo estranho aos oponentes de Jesus. Em todas essas discussões Jesus figura como o emancipador do espírito humano, revelando princípios, ao invés de regras, como guia da conduta humana; e assim libertou todos os homens possuidores de tal atitude, das algemas da moralidade convencional.

Irado, olhou para os que estavam à sua volta e, profundamente entristecido por causa dos seus corações endurecidos, disse ao homem: "Estenda a mão". Ele a estendeu, e ela foi restaurada. (Marcos 3.5)
Então os fariseus saíram e começaram a conspirar com os herodianos contra Jesus, sobre como poderiam matá-lo. (Marcos 3.6)

A PACIÊNCIA DE DEUS



Tem-se escrito muito menos sobre esta excelência do caráter divino do que sobre as demais. Não poucos dos que têm se estendido largamente sobre os atributos divinos, deixaram de lado, sem nenhum comentário, a paciência de Deus. Não é fácil opinar sobre a razão disto, pois certamente a paciência de Deus é igualmente uma das perfeições divinas, como a Sua sabedoria, poder ou santidade, e igualmente digna de ser admirada e reverenciada por nós. É verdade que esse vocábulo não se acha numa concordância tantas vezes como os outros, mas a glória desta graça refulge em quase todas as páginas das Escrituras. O certo é que perdemos muito, se não meditamos com frequência na paciência de Deus e se não oramos fervorosamente, rogando que os nossos corações a ela se disponham mais completamente.
O mais provável é que a principal razão pela qual tantos escritores deixaram de dar-nos algo, separadamente, sobre a paciência de Deus, é a dificuldade em distinguir este atributo da bondade e da misericórdia divinas, particularmente desta última A longanimidade de Deus é mencionada repetidamente era conjunto com a Sua graça  e misericórdia,  como  se pode  verificar consultando Êxodo 34.6; Números 14.18; Salmo 86.15 etc.   Não se pode negar que a paciência de Deus é realmente uma demonstração da Sua misericórdia, na verdade um modo pelo qual está se manifesta frequentemente;  não se pode conceder, porém   que ambas sejam urna só e a mesma excelência e que não se possa separar uma da outra. Embora não seja fácil distinguir entre elas as Escrituras nos autorizam plenamente a afirmar sobre uma delas algumas coisas que não podemos afirmar sobre a outra.
Stephen Charnock, o puritano, define em parte a paciência de Deus assim: "É uma parte da bondade e da misericórdia divinas e, contudo, difere de ambas. Sendo Deus a maior bondade tem a maior brandura; a brandura é   sempre companheira   da bondade e, quanto maior a bondade, maior a brandura. Quem houve tão santo como Cristo, e tão gentil? A lentidão de Deus para a ira é um aspecto da Sua misericórdia: "... o Senhor (é) sofredor e de grande misericórdia" (Salmo 145.8; Atualizada, semelhante à versão da citação: "... o Senhor (é) tardio em irar-se e de grande clemência"). A paciência difere da misericórdia na consideração formal do objeto:  a misericórdia considera a criatura como infeliz, a paciência considera a criatura como criminosa; a misericórdia tem pena do ser humano em sua infelicidade a paciência tolera o pecado que gerou a infelicidade e deu nascimento a mais infelicidade ainda".
Pessoalmente, definimos a paciência divina como aquele poder de controle que Deus exerce sobre Si mesmo, levando-0 a tolerar os maus e a demorar-Se a castigá-los. Em Naum 1.3 lemos: “O Senhor e tardio em irar-se, mas grande em força...", sobre o qual disse o senhor Charnock: "Os homens que são grandes no mundo sofrem rápido impulso da paixão, e não se dispõem a perdoar logo, ou a tolerar um ofensor, como alguém de nível inferior. É a falta de poder sobre o próprio ego que os leva a fazer coisas impróprias sob provocação. Um príncipe capaz de sujeitar as suas paixões é um rei sobre si mesmo, bem como sobre os seus súditos. Deus é tardio em irar-Se porque é grande em força, Ele não tem menos poder sobre Si mesmo do que sobre as Suas criaturas'.
É na questão acima, pensamos nós, que a paciência de Deus se distingue mais claramente da Sua misericórdia. Embora a criatura seja beneficiada por ela, a paciência de Deus diz respeito principalmente a Si próprio, como uma restrição imposta por Sua vontade aos Seus atos, ao passo que a Sua misericórdia se esgota totalmente na criatura. A paciência de Deus é aquela excelência que O leva a suportar grandes ofensas sem vingar-Se imediatamente. Ele tem um poder de paciência, como também um poder de justiça. Assim, a palavra hebraica para "Longânimo" é traduzida por '"tardio em irar-se" em Neemias 9.17, Joel 2.13, etc. Não que haja quaisquer paixões na natureza divina, mas que à sabedoria e à vontade de Deus apraz agir com aquela dignidade e sobriedade que vem a ser a Sua exaltada majestade.
Em apoio de nossa definição acima, permita-me assinalar que foi para esta excelência do caráter divino que Moisés apelou, quando Israel pecou tão afrontosamente era Cades-Barnéia, e ali provocou ao Senhor tão dolorosamente. Ao Seu servo disse o Senhor: "Com pestilência o ferirei, e o rejeitarei..." (Números 14:12). Então foi que o mediador tipológico intercedeu: "Agora, pois, rogo-te que a força do meu Senhor se engrandeça; como tens falado, dizendo: O Senhor é Longânimo" (versículos 17 e 18). Portanto, a Sua "longanimidade"" ou paciência é a Sua "força" ou o Seu poder de autorrestrição.
Ainda em Romanos 9.22 lemos: "E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição". Se Deus imediatamente fizesse em pedaços estes vasos reprovados, o Seu poder de autocontrole não apareceria tão eminentemente; tolerando a iniquidade deles e lhes sobrelevando demoradamente o castigo, o poder da Sua paciência fica demonstrado gloriosamente. É verdade que os ímpios interpretam a paciência de Deus de maneira muito diferente - "Visto como se não executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal" (Eclesiastes 8:11) — mas o olhar ungido adora o que eles insultam.
"O Deus de paciência" (Romanos 15.5) é um dos títulos divinos. A Deidade é assim denominada, primeiro, porque Deus é tanto o Autor como o Objeto da graça da paciência na criatura. Segundo, porque é isto que Ele é em Si mesmo: a paciência é uma das Suas perfeições. Terceiro, como um padrão para nós: "Revesti-vos pois, como eleitos de Deus, santos, e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, mansidão, longanimidade" (Colossenses 3.12). E ainda: "Sede pois imitadores de Deus como filhos amados" (Efésios 5.1). Quando tentado a aborrecer-se com a lerdeza doutrem, ou a vingar-se de alguém que o ultrajou, lembre-se da infinita paciência e longanimidade de Deus para com você.
A paciência de Deus se manifesta em Sua maneira de tratar os pecadores. Quão surpreendentemente foi demonstrada para com os antediluvianos. Quando a humanidade estava universalmente degenerada, e toda a carne havia corrompido os seus caminhos, Deus não a destruiu sem antes adverti-la. "... a longanimidade de Deus esperava..." (1 Pedro 3.20), Deus esperou não menos de cento e vinte anos (Gênesis 6.3), tempo durante o qual Noé foi "... pregoeiro da justiça... " (2 Pedro 2.5). Assim, mais tarde, quando os gentios não só cultuavam e serviam mais a criatura do que ao Criador, mas também cometiam as mais vis abominações contrárias até mesmo aos .ditames da natureza (Romanos 1.19-26), e com isso encheram a medida da sua iniquidade; todavia, em vez de desembainhar a Sua espada para o extermínio desses rebeldes, Deus "... deixou andar todas as gentes em seus próprios caminhos..." e lhes deu "... chuvas e tempos frutíferos..." (Atos 14.16-17).
A paciência de Deus foi maravilhosamente exercida e manifestada para   com   Israel.   Primeiro, Ele “...suportou os   seus costumes no deserto por espaço de quase quarenta anos (Atos 13.18). Posteriormente, quando os israelitas entraram em Canaã, mas seguiam os maus costumes das nações ao seu redor e pendiam para a idolatria, conquanto Deus os castigasse dolorosamente    não   os   destruiu   por   completo, mas   sim   em   sua   angustia, levantava libertadores para eles. Quando a sua iniquidade subiu a tal ponto que ninguém, senão um Deus de infinita paciência, poderia   suportá-los, Ele, não obstante, poupou-os   durante   muitos anos   antes de deixar que fossem levados para a Babilônia. Finalmente   quando a sua rebelião contra Ele atingiu o clímax pela crucificação de Seu Filho, Deus esperou quarenta anos, antes de enviar os romanos contra eles, e isso, só depois deles Julgarem que não eram "...dignos da vida eterna...     (Atos 13.46)
Quão maravilhosa é a paciência de Deus com o mundo hoje! Por toda parte as pessoas pecam a peito aberto. A lei divina é pisoteada e o próprio Deus é desprezado abertamente. É deveras espantoso que Ele não elimine de vez aqueles que tão descaradamente O desafiam. Por que Ele não corta da face da terra o infiel insolente e o escarnecedor verboso, como fez com Ananias e Safira?   Por que não faz a terra abrir a boca e devorar os perseguidores do Seu povo para que, à semelhança de Data e Abirão   fossem vivos para o Abismo? E que dizer da cristandade apóstata, em que todas as formas de pecado possíveis são agora toleradas e praticadas sob a capa do santo nome de_ Cristo? Por que a justa ira do Céu não põe fim a tais abominações? Somente uma resposta é possível: porque Deus tolera com muita paciência os vasos da ira, preparados   para   perdição (Romanos 9.22).
E que dizer do autor e do leitor? Façamos uma revisão em nossas vidas. Não transcorreu muito tempo desde quando nós seguíamos a multidão na prática do mal, não nos interessávamos nem um pouco pela glória de Deus e só vivíamos para gratificar o nosso ego. Quão pacientemente Ele tolerou a nossa conduta vil! E agora que a graça nos tirou como tições do fogo, dando-nos um lugar na família de Deus, e nos gerou para uma herança eterna na glória, quão miseravelmente Lhe retribuímos! Quão superficial a nossa gratidão, quão tardia a nossa obediência e quão frequentes as nossas apostasias! Uma razão pela qual Deus tolera que o crente permaneça carnal é que Ele possa demonstrar a Sua longanimidade para conosco (2 Pedro 3.9). Desde que este atributo divino só se manifesta neste mundo, Deus se empenha mais em mostrá-lo para com "os Seus".
Oxalá a nossa meditação nesta excelência divina abrande os nossos corações, enterneça as nossas consciências, e possamos aprender na escola da santa experiência a "paciência dos santos”, a saber, a submissão à vontade divina e a perseverança na prática do bem. Busquemos fervorosamente a graça que nos capacite a imitar está excelência divina. "Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus'" (Mateus 5.48); no contexto imediato Cristo nos exorta a amar os nossos inimigos, a bendizer os que nos maldizem, a fazer o bem aos que nos odeiam. Deus tolera bastante os ímpios, apesar da multidão dos seus pecados; e nós, haveremos de querer vingar-nos por causa de uma única ofensa?

A PLENITUDE DOS TEMPOS

  Gálatas 4:4 – mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei.   Neste texto o apóstolo...