sexta-feira, 19 de outubro de 2012

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe


Pensamento Político
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe (Título original Il Príncipe revisto por Maria de Fátima C.A. Madeira) Trad. Pietro Nasseti 2°ed. São Paulo-SP Martin Claret, 2005. 189p.
Quando queremos dizer que alguém é ardiloso, astuto ou pérfido, costumamos dizer que é maquiavélico. O adjetivo não é nada lisonjeiro, mas o responsável por ele é um dos filósofos mais importantes da história da filosofia política. Nicolau Maquiavel (1469-1527) nasceu em Florença, na época do Renascimento. Como sabemos, o Renascimento foi um período de intensa renovação. Caracterizou-se por um movimento intelectual baseado na recuperação dos valores e modelos da Antiguidade greco-romana, contrapondo-os à tradição medieval ou adaptando-os a ela. O Renascimento referiu-se não apenas às artes plásticas, a arquitetura e as letras, mas também à organização política e econômica da sociedade. “Podeis deixar de atingir vosso objetivo, mas participai da corrida mesmo assim.” [1]
     Durante o período medieval, o poder político era concebido como presente divino. Os teólogos elaboraram suas teorias políticas baseados nas escrituras sagradas e no direito romano. No período do Renascimento, os clássicos gregos e latinos passaram a lastrear o pensamento político. Maquiavel, no entanto, elaborou uma teoria política totalmente inédita, fundamentada na prática e na experiência concreta. "O Príncipe" sintetiza o pensamento político de Maquiavel. A obra foi escrita durante algumas semanas, em 1513, durante o exílio de Maquiavel, que tinha sido banido de Florença, acusado de conspirar contra o governo. Mas só foi publicada em 1532, cinco anos depois da morte do autor. Como tinha sido diplomata e homem de estado, Maquiavel conhecia bem os mecanismos e os instrumentos de poder. O que temos em "O Príncipe" é uma análise lúcida e cortante do poder político, visto por dentro e de perto.
     No primeiro capítulo - “Os vários tipos de Estado, e como são instituídos” apresenta dois tipos de principados o hereditário e o adquirido, e aponta as duas maneiras de um governante chegar ao poder: Virtude ou Fortuna (Dinheiro). "Que não foi feito segundo a lei do mandamento carnal, mas segundo a virtude da vida incorruptível." (Hebreus 7.16)
No segundo - “As monarquias hereditárias”, afirma que o principado hereditário é o mais difícil de ser conquistado, e mais fácil de manter o poder, pois o povo esta acostumado a ser dominado pelos seus governantes.
O terceiro - “As monarquias mistas”, o autor apresenta qual o método que o soberano deve utilizar para conquistar o Estado. A primeira ação é eliminar a linhagem anterior; segunda: não mudar a rotina do povo conquistado; terceira: seu exército, sua resistência precisa ficar no local conquistado. Porém, o mais importante é que o conquistador deva ficar afastado dos “poderosos”, pois os mesmos podem futuramente conspirar contra seu governo.
No quarto - “Por que razão o Reino de Dário, que Alexandre havia ocupado não se rebelou contra seus sucessores após a morte de Alexandre”, Maquiavel responde esse questionamento mostrando duas formas de como o principado é governado: o príncipe com o seu ministro têm maior poder para governar, e a outra forma de governo é o príncipe governando junto com nobres com títulos não dado pelo soberano, mas pela nobreza de sangue, já é mais difícil de governar. "Eu não temeria um grupo de leões conduzido por uma ovelha, mas eu sempre temeria um rebanho de ovelhas conduzido por um leão.” [2]
     No quinto - “O modo de governar as cidades ou Estado que antes de ser conquistadas tinham as suas próprias leis”, o autor aponta três maneiras: a primeira é destruí-las; a segunda transferir a residência do soberano para o local conquistado; e a terceira é deixar o povo viver na sua antiga lei, porém cobrando impostos para tal exercício.
     No sexto - “Os novos principados conquistados pelo valor”, apresenta alguns exemplos de alguns conquistadores que chegaram ao poder pelo valor, e não pela fortuna. Citando o exemplo de Moisés, Ciro, Rômulo e Teseu.
"Então disse Moisés ao SENHOR: Ah, meu Senhor! eu não sou homem eloquente, nem de ontem nem de anteontem, nem ainda desde que tens falado ao teu servo; porque sou pesado de boca e pesado de língua." (Êxodo 4.10)
“A coragem é um dom humano... A sabedoria é um dom divino”.[3]
     No sétimo - “Os novos principados conquistados pela fortuna”, O autor diz que aqueles que conseguem o poder pela fortuna, devem fazer de tudo para adquirir o valor, pois a ruína dos mesmos estará à porta se isto não acontecer. O autor utiliza-se de César Bórgia para elucidar sua teoria.

Príncipe italiano. Filho de Rodrigo Borja ou Bórgia, depois papa Alexandre VI, é um personagem tipicamente renascentista pela sua ambição e pelo seu talento, pelas suas virtudes e pelas suas debilidades. Aos dezesseis anos é nomeado bispo e aos dezoito cardeal, mas de imediato abandona a carreira eclesiástica pela das armas. Protegido pelo pai recebe de Luís XII, rei de França, o título de duque de Valentinois. Casa-se com uma irmã de Juan de Albret, rei de Navarra, e o Vaticano nomeia-o para um alto cargo militar (porta-bandeira) dos estados da Igreja. Excelente militar e político astuto (Maquiavel é um dos seus conselheiros) apodera-se de quase toda a Romanha (região de Itália) e participa nas campanhas de Luís XII contra o reino de Nápoles. Mas a morte do pai, o papa Alexandre VI, em 1503, arruína os seus planos. O novo papa, Júlio II, primeiro encarcera-o e posteriormente expulsa-o da Itália. Então vai para Navarra, Espanha, onde morre no campo de batalha, numa escaramuça entre agramonteses e beaumonteses.[4]

     O Oitavo - “Os que com atos criminosos chegaram ao governo de um Estado”, Maquiavel cita alguns exemplos de como algumas pessoas chegaram ao poder pelos crimes, e afirma que se o soberano quiser manter-se no poder deve sempre moderar a sua forma bruta usando-a de maneira racional.
     Nono - “O principado Civil”, apresenta um exemplo de um cidadão que chega ao poder, ou por ajuda do povo ou pela aristocracia e afirma que é mais fácil este príncipe se manter no poder apoiado pelo povo do que pelos ricos, por esse motivo o monarca deve sempre encontrar uma maneira para que os seus súditos sempre permaneçam fiéis.
     No décimo - “Como avaliar a força do Estado”, para que o soberano possa manter-se no poder é necessário pensar em montar um bom exército para a proteção da cidade e ter apoio do povo.A disciplina é a alma de um exército; torna grandes os pequenos contingentes, proporciona êxito aos fracos, e estima toda a gente.” [5]
     Décimo primeiro - “Principado Eclesial”, o autor diz que esse tipo de principado tem mais facilidade de se manter no poder, pois a Igreja tem um poder construído, por isso que sua estrutura é sólida não correndo o risco de ser deposto.
     Décimo segundo - “Os diferentes tipos de milícias e de tropas mercenárias”, Maquiavel descreve o sistema de defesa usado pelos monarcas para se manter no poder que são boas leis e bons exércitos, no entanto, o escritor dá um conselho para que os governantes tenham um bom exército composto pelos seus cidadãos, pois estes vão ser sempre fiéis às suas ordens, diferente dos exércitos mistos e mercenários.
     Décimo terceiro - “Forças auxiliares, mistas e nacionais” afirma que nenhum príncipe pode ter segurança sem o seu próprio exército, pois caso esteja sem ele dependerá inteiramente da sorte, porque não terá meios confiáveis de defesa.
     Décimo quarto - “Os deveres do príncipe para com sua milícia”, o soberano prudente deve sempre estar treinando o seu exército para a guerra, pois acontecendo qualquer imprevisto o Rei vai sempre resistir os golpes dos seus adversários.
     Décimo quinto - “As razões por que os homens, especialmente os príncipes são louvados”, Maquiavel aconselha aquelas pessoas que desejam o poder, para que saibam conduzir os súditos e os aliados. É necessário que o governante não provoque escândalos, pois isso ajudará manter no poder. "Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano." (Salmos 32.2)
     Décimo sexto - “A liberdade e a parcimônia[6], o autor diz que é necessário para o governante manter-se no poder ostentar um pouco a sua riqueza, pois o povo gosta de ver. Mas Maquiavel adverte que não deve explorar muito o povo, pois se não estes podem se revoltar contra o seu soberano.

"Será preciso, contudo, ser cauteloso com aquilo que fizer, e no que acreditar; é necessário que não tenha medo da própria sombra, e que aja com equilíbrio, prudência e humanidade, de modo que o excesso de confiança não o torne incauto, e a desconfiança excessiva não o faça intolerante.[7]

     Décimo sétimo - “A crueldade e a clemência. Preferível ser amado ou temido” coloca que o ideal é que o soberano tenha as duas características ser amado e temido, como não é possível possuir essas duas qualidades é preferível que seja temido a ser amado, no entanto não se pode exagerar muito na maldade.
     Décimo oitavo - “A conduta dos príncipes e a boa fé”, Nicolau afirma que para manter o poder, não importa os meios empregados se honrosos ou não, pois o soberano sempre visa um resultado.
     Décimo nono - “Como se pode evitar o desprezo e o ódio”, o soberano nunca deve ser odiado pelo povo, pois caso seja será fácil ser deposto, mas no momento em que o príncipe respeita o patrimônio e as mulheres, os súditos lutarão pelo seu governante.
     Vigésimo - “A utilização da construção de fortaleza, e de outras medidas que os príncipes adotam com frequência”, afirma que o monarca não deve desarmar os seus cidadãos, pois isso é prejudicial ao príncipe, armando o povo eles se sentirão mais valorizados, com isso mais fiéis.
     No vigésimo primeiro - “Como deve agir um príncipe para ser estimado”, o monarca para ser estimulado deve fazer grandes empreendimentos, e deve sempre se posicionar em uma guerra.
     Vigésimo segundo - “Os ministros do Príncipe”, o soberano deve ter muita sabedoria antes de escolher as pessoas que o rodeiam para que estes sempre mantenham a fidelidade.
     Vigésimo terceiro - “Como escapar dos aduladores”, Maquiavel orienta aquelas pessoas que estão no poder a ter muito cuidado com os aduladores, uma forma de escapar desse perigo é escolher algumas pessoas para aconselhar, mas somente se o soberano quiser.Os aduladores são como as plantas parasitas que abraçam o tronco e ramos de uma árvore para melhor aproveitá-la e consumi-la.” [8]
     Vigésimo quarto - “As razões por que os príncipes da Itália perderam seus domínios”, Os príncipes Italianos contaram muito com a fortuna e não tinham virtude para governar o seu Estado.
     Vigésimo quinto - “O poder. Como resistir?”, os governantes devem ter muito cuidado com a fortuna, pois esta pode fazer a cabeça do monarca, é preciso ter prudência e audácia só assim vai poder controlá-la. “O dinheiro não traz felicidade — para quem não sabe o que fazer com ele.” [9]
     Vigésimo sexto - “Exortação à liberdade da Itália dominada pelos bárbaros”, Maquiavel clama a Médici, para quem escreveu esse livro quando estava no cárcere, que mostre sua validade comandando os italianos para a libertação da Itália.
     Após a leitura concluímos que esta obra pode ser considerada sim um manual para vida política, administrativa e por que não eclesiástica. Maquiavel nos leva a um terreno para muitos desconhecido, porém outorga para si o direito de nos revelar todo os bastidores do poder na sua forma mais clara e objetiva. O livro realmente cumpre seu papel de preparar homens para uma vida de soberania, uma vida na frente de um “povo”. Quero então terminar com este pensamento que de certa forma me alcançou no sentido reflexivo, me fazendo enxergar os indivíduos como eles são e perceber se eu mesmo passei por tal experiência: “Para bem conhecer a natureza dos povos, é necessário ser príncipe, e para bem conhecer a dos príncipes, é necessário pertencer ao povo.”


[1] Giordano Bruno em seu livro, “A ceia de quarta feira de cinzas”
[2]  Alexandre “O Grande”
[3] Rômulo Raulino
[4] César Bórgia
[5] George Washington
[6] Parcimônia = Cautela
[7] Nicolau Maquiavel
[8] Marquês de Maricá
[9] Machado de Assis

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