Conta-se que um
crente chegou para o pastor da sua igreja e disse: “pastor, eu gostaria de comprar três reais de Deus. Apenas três reais –
o suficiente para me dar um sono tranqüilo à noite, mas que não me faça
perturbar com a sorte dos negros; que seja suficiente para me fazer dormir, mas
que não me faça sofrer com os miseráveis nas favelas. Eu quero só três reais de
Deus – que me dê arrepios, mas que não me transforme; que me dê cura divina, e
não, cura interior. Eu quero três reais de Deus – que me dê o calor de um
ventre e de um útero, mas que não me faça nascer de novo. Três reais de Deus,
por favor, em saquinhos de papel - que me garanta o pão de cada dia, mas
que não me deixe inquieto com as crianças que não têm o que comer. Pastor, três
reais basta - o suficiente para proteger a minha casa e os meus bens, mas que
não me deixe perplexo com a situação dos que dormem debaixo dos viadutos. Três
reais bastam – suficiente para me abrir às portas do céu, mas que não me exija
abrir os olhos para ver a maldade do meu coração, e abrir os ouvidos para o
clamor daqueles desesperados me estendem a mão. Pastor me dê três reais de Deus”.
Esta
estória acima retrata com cores bem vivas a realidade do cristianismo que a
maioria de nós tem vivido – um cristianismo sem compromisso, um cristianismo
interesseiro – de consumo, no qual reduzimos Deus à categoria das ampolas de
morfina, dos analgésicos, e o que o que é pior – dos utilitários. Não queremos
Deus – queremos apenas aquilo que de “bom” Ele pode proporcionar. Não O
procuramos por aquilo que Ele é, mas por aquilo que Ele pode nos dar. Não o
buscamos porque O desejemos, mas porque O reconhecemos como imprescindível
para alcançarmos os nossos planos pessoais. Na hora da crise, uns se agarram às
drogas, às bebidas, aos psicotrópicos; nós recorremos aos nossos suficientes e
seguros "três reais de Deus". Afinal, queremos de Deus apenas o
suficiente para “ficar de bem com a vida”.
Queremos
um cristianismo – um cristianismo que nos levante, nos deixe pra cima, “com um
alto astral”, mas que não nos fale de sacrifício, de renúncia, de perdas.
Queremos, sim, um cristianismo, mas um cristianismo indolor, sem sofrimento –
um cristianismo sem cicatrizes – que não nos deixe marcas. Queremos, sim, um cristianismo
que nos tire do inferno, mas que não nos tire de nosso conforto e de nossa
comodidade; que fale de amor, mas que não nos faça ver as realidades chocantes
das favelas e das ruas das grandes cidades.
Como é
triste esse tipo de cristianismo que tem surgido em nossa geração. Um
cristianismo de doses homeopáticas, dos “três reais de Deus” – quantidade que
nos serve e que nos é suficiente para os problemas do dia a dia. De verdade nós
precisamos voltar urgentemente ao verdadeiro cristianismo. Ao cristianismo da
graça, mas que não é barata e nem prostituída por nosso descompromisso com a
verdade; que salva do inferno, mas que também liberta dos grilhões do pecado;
que nos dá paz, mas não nos deixa tranqüilamente indiferentes aos paradoxos e
contradições sociais do mundo em que vivemos; que nos fala do céu, mas não nos
aliena da nossa responsabilidade de transformarmos essa terra num mundo melhor.
Que Deus nos abençoe.
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