Houve
um tempo em que numa ilha muito pequena, confundida com o paraíso de tão linda,
habitavam os sentimentos, como habitamos agora a Terra.
Nesta ilha viviam em harmonia o
Amor, a Tristeza, a Sabedoria, a Vaidade, a Alegria, a Riqueza e todos os
outros sentimentos.
Um dia, num desses em que a natureza parece
revoltar-se, o Amor acordou apavorado porque percebeu que sua ilha estava sendo
inundada. Mas esqueceu-se logo do medo que sentia e foi cuidar de outros
sentimentos em situações geográficas muito piores que a sua, afinal eles
corriam riscos.
O Amor ajudou vários a se salvarem. Cada
sentimento ia pegando seu próprio barco e fugiam todos para parte mais alta da
ilha de onde avistavam todos os outros sentimentos a caminho sem correrem
nenhum perigo com a inundação. Só o Amor não se apressou. O Amor nunca se
apressa. Ele queria ficar um pouquinho mais em sua ilha, tentou salvar pequenas
e significativas lembranças de amor verdadeiro.
Mas quando já estava quase se afogando o Amor
lembrou-se que ele não podia deixar-se morrer. Então saiu correndo em direção
dos barcos gritando socorro. Ainda poderia ter sido salvo por alguns deles, mas
a Riqueza ouvindo seu grito tratou logo de responder que não poderia levá-lo,
pois com todo o ouro e a prata que carregava não podia arriscar afundar seu
barco. Passou então a Vaidade que também disse que não poderia levá-lo uma vez
que ele, o Amor, se sujara por demais ajudando aos outros e ela não suportava
sujeira! Logo atrás da Vaidade vinha a Tristeza que se sentia tão profunda que
não queria a companhia de ninguém, mal se apercebeu do Amor. Passou também a
Alegria, mas estava tão alegre que não ouviu o pranto do Amor. Sem esperanças o
Amor sentou-se na última pedra que ainda se via sobre a superfície da água e
começou a minguar.
Seu pranto triste chamou atenção... Um
velhinho apareceu num barco. Aproximou-se e apanhou o Amor nos seus braços.
Levou-o para a alta Montanha, para perto dos outros sentimentos. Recuperando-se
o Amor perguntou a Sabedoria quem era o velhinho que o ajudara. Sabedoria
respondeu que tinha sido o Tempo. O Amor questionou:- Porque só o Tempo pode
trazer-me até aqui? A Sabedoria então respondeu:
Porque só o Tempo tem a capacidade de ajudar
o Amor a chegar aos lugares mais difíceis e a compreender os sentimentos, só o
Tempo!
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